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Câncer do colo do útero e de mama
Prevenção?


Envio em primeiro lugar o artigo que está publicado na página oficial do Instituto Nacional do Câncer, abordando o assunto “câncer ginecológico”. Logo abaixo do mesmo, as minhas considerações como médica e cidadã.

Também envio, ao final dos textos, links de vídeos sobre HPV, o que abrange, assim, interesse para aqueles que não gostam de ler textos (infelizmente...).

Também infelizmente alguns utilizam certos vídeos para propaganda pessoal, além de existirem vídeos no Youtube que simplesmente deturpam o empenho da sociedade (em todos os setores) para conseguirmos diminuir a incidência desta doença que está tomando alarmante proporção.

Mais infelizmente ainda eu só encontrei um vídeo para surdos, mas de tão idiota que resolvi não indicar. Surdo apenas não ouve, mas tem o direito de saber sobre as informações em detalhes, mesmo em um vídeo ou notícia de televisão.

"Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama - Viva Mulher

Consiste no desenvolvimento e na prática de estratégias que reduzam a mortalidade e as repercussões físicas, psíquicas e sociais do câncer do colo do útero e do de mama. Por meio de ação conjunta entre o Ministério da Saúde e todos os 26 Estados brasileiros, além do Distrito Federal, são oferecidos serviços de prevenção e detecção precoce das doenças, assim como tratamento e reabilitação em todo o território nacional.

Qual a situação atual da doença?

Câncer do colo do útero

Dentre todos os tipos, o câncer do colo do útero é o que apresenta um dos mais altos potenciais de prevenção e cura, chegando perto de 100%, quando diagnosticado precocemente. Seu pico de incidência situa-se entre 40 e 60 anos. Apenas uma pequena porcentagem ocorre abaixo dos 30 anos.

Câncer de mama

No Brasil, o câncer de mama é a maior causa de óbitos por câncer na população feminina, principalmente na faixa entre 40 e 69 anos.
Um dos fatores que dificultam o tratamento é o estágio avançado em que a doença é descoberta. A maioria dos casos é diagnosticada em estágios avançados (III e IV), diminuindo as chances de sobrevida das pacientes e comprometendo os resultados do tratamento.
A quem o Programa se destina?

Em relação ao câncer de colo do útero

Para impedir o avanço da doença no Brasil, o Programa Viva Mulher desenvolve ações dirigidas às mulheres na faixa etária de 25 a 59 anos, que incluem diagnóstico precoce (através de exame Papanicolau e exames de confirmação diagnóstica) e tratamento necessário de acordo com cada caso.

Em relação ao câncer de mama

Com intuito de detectar as lesões malignas da mama, o Viva Mulher preconiza, de acordo com as recomendações do Consenso para Controle do Câncer de Mama, a realização do exame clínico das mamas para mulheres de todas as faixas etárias, como parte do atendimento integral à mulher. Para mulheres acima de 40 anos, esse exame deve ser realizado anualmente e, para aquelas na faixa entre 50 e 69 anos recomenda-se a realização de uma mamografia, pelo menos, a cada dois anos. As mulheres submetidas a esses exames devem ter acesso garantido aos demais procedimentos de investigação diagnóstica e de tratamento, quando necessário.

Como é feita a prevenção?

Câncer do colo do útero

A prevenção primária pode ser realizada através do uso de preservativos durante a relação sexual, uma vez que a prática de sexo seguro é uma das formas de evitar o contágio com o HPV (vírus do papiloma humano), que tem papel importante no desenvolvimento do câncer e de suas lesões precursoras.

A principal estratégia utilizada para a detecção precoce dessa doença no Brasil é o rastreamento, que significa realizar o exame preventivo (Papanicolau) em mulheres sem sintomas, com o objetivo de identificar aquelas que possam apresentar a doença em fase muito inicial, quando o tratamento pode ser mais eficaz. O exame preventivo é dirigido a mulheres de 25 a 59 anos, que devem submeter-se ao exame periodicamente. A periodicidade preconizada para a realização desse exame é, inicialmente, um exame por ano. No caso de dois resultados normais seguidos (com intervalo de um ano entre eles), o exame deverá ser feito a cada três anos. Em caso de exames com resultados alterados, a mulher deve seguir as orientações do médico que a acompanha.

O exame Papanicolau pode ser realizado em postos ou unidades de saúde, próximos à residência da mulher, que tenham profissionais de saúde treinados para essa finalidade.

Câncer de mama

Não existem evidências científicas conclusivas que justifiquem estratégias específicas de prevenção primária. Ações de promoção à saúde dirigidas ao controle das doenças crônicas não-transmissíveis (o que inclui o câncer de mama) devem focar os fatores de risco, especialmente, a obesidade e o tabagismo.

A detecção precoce é a principal estratégia para controle do câncer de mama. Segundo as orientações do Consenso para o Controle do Câncer de Mama, as seguintes ações são recomendadas para o rastreamento do câncer de mama em mulheres sem sintomas:

Exame Clínico das Mamas realizado anualmente, para as todas as mulheres com 40 anos ou mais. O Exame Clínico das Mamas deve fazer parte, também, do atendimento integral à mulher em todas as faixas etárias;

Mamografia para as mulheres com idade entre 50 a 69 anos, com o intervalo máximo de dois anos entre os exames;

Exame Clínico das Mamas e Mamografia anual, a partir dos 35 anos, para mulheres pertencentes a grupos com risco elevado de desenvolver câncer de mama. São consideradas mulheres de risco elevado aquelas com: um ou mais parentes de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) com câncer de mama antes dos 50 anos; um ou mais parentes de primeiro grau com câncer de mama bilateral ou câncer de ovário; história familiar de câncer de mama masculino; lesão mamária proliferativa com atipia comprovada em biópsia;
As mulheres submetidas ao rastreamento devem ter garantido o acesso aos exames de diagnóstico, ao tratamento e ao acompanhamento das alterações encontradas.
O autoexame das mamas não deve substituir o exame clínico realizado por profissional de saúde treinado para essa atividade. Entretanto, o exame das mamas pela própria mulher ajuda no conhecimento do corpo e deve estar contemplado nas ações de educação para a saúde."

Referência: http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=140

Minhas considerações:

Em 2008 o médico e pesquisador alemão Harald zur Hausen foi um dos agraciados com Nobel de medicina. Ele foi reconhecido por ter liderado as pesquisas que comprovam que o HPV (papilomavírus humano) é capaz de causar câncer no colo do útero.
 
Mas este vírus é conhecido desde 1960 e comprovado ser o responsável pelas verrugas genitais chamadas “condiloma acuminado”. No início da década de 70 estudos epidemiológicos constataram a transmissão sexual deste vírus. No mesmo ano foi comprovado epidemiologicamente que as alterações induzidas pelo HPV podiam levar ao câncer, principalmente do colo uterino, o que veio a se confirmar ao longo dos anos. Em 1990 foi constatado o vírus estava presente na quase totalidade dos casos pesquisados de câncer do colo.

Eu não entendo as estatísticas que são apresentadas no Programa de Prevenção ao Câncer Ginecológico, uma vez que já pesquisei que, apesar de ele estar em segundo lugar em frequencia de câncer na mulher (o primeiro é o de mama),  em algumas classes sociais e em algumas regiões do país, é este  que prevalece em incidência. Sabemos que, no geral, é o principal causador de câncer na mulher jovem, principalmente adolescente.

Assim sendo, não é cabível orientar ao exame preventivo periódico apenas mulheres a partir dos 25 anos de idade - até porque o início da atividade sexual das mulheres está começando na adolescência e em idade cada vez menor.

Está certo que se valem de estatísticas, mas isso não é medicina preventiva. A meu ver não existe medicina preventiva no Brasil, só mesmo programas que tentam administrar o caos. Caso alguém queira fazer um exame ginecológico preventivo, seja de câncer de colo ou mama, em serviços públicos, não conseguirá facilmente esta prevenção, pois demoram meses entre uma consulta e o diagnóstico, além de outros meses para algum tratamento. Acompanhamento, então, nem se fala...

A prevenção e o diagnóstico precoce são tudo, mas no Brasil, se pessoas morrem por falta de pronto atendimento a um enfarto do miocárdio ou apendicite, por exemplo, o que falar de profilaxia ao câncer ginecológico? Em se tratando de povo como um todo, estamos ainda muito longe da meta do governo e das instituições de saúde.

O que também não entendo é indicarem fazer preventivo anualmente, e depois de dois resultados normais, liberarem a mulher para fazer este exame a cada três anos! Se as relações sexuais continuarão, também continuará o risco de contágio ao longo de toda a vida. Isso me parece ser economia mal administrada. Medicina curativa é cara; a preventiva, muito mais, mas a longo prazo, a medicina preventiva é contenção de gastos para um país.

Em serviços particulares nós orientamos as mulheres a fazer preventivo a cada seis meses, assim que começaram a ter relação sexual, e mamografia a partir dos 40 anos para qualquer uma (e mesmo antes, caso a mesma tenha familiares com câncer de mama.

Apesar de ser esta a conduta médica correta, não é assim que os programas de prevenção direcionam a prevenção - e isso tem a ver com as estatísticas absurdas. O vai acontecer é que muitas mulheres terão câncer antes dos 50 anos e muitas mulheres terão câncer do colo antes dos 25. O diagnóstico do câncer será feito, mas a cura talvez não seja mais possível.

Existe vacina contra o HPV, produzida por dois laboratórios de renome. Os laboratórios pesquisam constantemente para que a vacina tenha abrangência em todos os tipos oncogênicos, mas ela é muito cara para a maioria e não está disponível nos serviços públicos. Mesmo assim, até o momento não conseguiram evitar em 100% os casos de contaminação.

Há pelo menos 100 tipos do vírus, entretanto os tipos 16 e 18 estão presentes em 70% dos casos de câncer do colo. Milhões de mulheres são portadoras do vírus no mundo e, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada ano 500 mil terão câncer e, em média, 250 mil morrerão, se não diagnosticadas a tempo e se não devidamente tratadas ou acompanhadas.

Não se cura até o momento uma infecção por HPV, mas algumas pessoas deixam de apresentar positividade nos exames subsequentes, após a constatação da doença. Isso pode estar relacionado à imunidade pessoal. Outros casos irão progredir para o câncer. É preciso acompanhar pela vida toda.

Muitas mulheres não sabem que têm HPV e muitas estão transmitindo a doença. Muitas têm o vírus, mas o mesmo ainda não foi detectado pelo exame preventivo. Por isso é recomendada a vacinação mesmo antes da iniciação sexual. Relembrando que ela pode ser administrada a partir de nove anos de idade.

Os estudos com a vacina foram realizados em mulheres e a elas é direcionada a vacina. Os exames de rastreamento de rotina de qualquer doença sexualmente transmissível têm a mulher como meta. Passam, assim, ao falso conceito de que só mulher tem doenças, que só ela as transmite e que os homens não precisam se cuidar. Não é bem assim. O que querem é apenas proteger o alvo da estatística, mas se queremos mesmo que a doença seja controlada, as condutas profiláticas e até mesmo a vacinação, devem, a meu ver, ser também para o homem e os adolescentes do sexo masculino.

Recomendo vídeos interessantes que achei. Atenção para não saírem desta página.  - usem a setinha de voltar em seu pc.

Que bicho é esse
? (CDI Campinas)
http://www.youtube.com/watch?v=RnSfDuKGlXA&feature=related

Uma reportagem
http://tvig.ig.com.br/152583/hpv-avanca-entre-jovens.htm

Vídeo científico
Acabo por fazer propaganda de uma das vacinas, mas esta não é a intenção.
https://www.casadevacinasgsk.com.br/hpv/videos.asp

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