Clube da Dona Menô
Dona Menô


MULHER MADURA

MATUR - IDADE

Um dia eu perguntei a uma amiga:
 
- “E, aí? Como vai a carcaça?”.

Ela respondeu:

- “Tá tudo rateando, isso sim”.

- “Peças avariadas?”, perguntei.

Ela me olhou bem fundo e chorou, lamentando:

- “Acho que desta vez chegou a minha hora de morrer”.
 
Ela tinha apenas 46 anos e fazia quimioterapia para câncer de mama. Era médica, uma excelente cardiologista e me ajudou muito na luta com a saúde de minha mãe.
 
Diante do seu caso terminal (e ela sabia exatamente o que iria passar dali para frente), tentei, dentro do possível, lhe trazer alegrias e acho que consegui, como tantas outras pessoas que a amavam como eu.

Da mesma forma que a vi chorar, vi, na sua doença, momentos de muita alegria e prazer com a vida que lhe restava.

Esta mulher trabalhou até onde conseguiu em prol de seus pacientes, mesmo sofrendo de dores e de tristeza, sem precisar fazer isto - apenas porque era responsável e se sentia necessária. Ela conseguiu encaminhar cada doente seu para ser tratado por outros médicos depois de sua morte.

Minha amiga deixou em mim, nos seus amigos, parentes e em cada doente que tratou o mesmo sentimento de amor e respeito.

Um dia, ela me falou que estava louca para comer camarão e ver o mar.

Seu caso era tão avançado que qualquer trauma no seu corpo poderia fraturar um osso, que já estavam comprometidos com a doença. Ela não andava mais. Armamos um esquema (eu, seus parentes e amigos) pra fazermos sua vontade. Fomos, em caravana de carros e toda a parafernália para um atendimento de emergência, para a praia à noite.

Ela quis ver a orla bem devagarinho e rodamos com ela até onde ela quis. Seria a sua última vez de ver o mar. Até corri pelo pier com ela na cadeira de rodas, para que visse as ondas de perto e sentisse o cheiro da maresia. Ela bebeu água de coco e depois a levamos para comer. E como comeu!!!

Acabamos de madrugada e na volta pegamos um enorme temporal. Nesta noite ela dormiu como um anjinho e não precisou de nenhum remédio para dor.

Na hora que saímos do restaurante, ela me parou na porta e falou: “Leila, eu vou morrer e quero que você saiba que eu agradeço pela alegria que está me dando hoje e eu não vou nunca esquecer, independente do lugar para onde eu for”.

Eu estava lá quando ela morreu e vi todo o sofrimento por que passaram sua mãe e sua família, mas quero que saibam que esta mulher maravilhosa não sofreu tanto por sua causa, mas por deixar aqui, neste mundo, uma filha adolescente, que precisava tanto dela.

Uma semana depois de sua morte, tive um sonho com ela. Ela aparecia ao lado de minha cama, vestida de branco (como se vestia para trabalhar) e me avisava que minha mãe passaria mal naquela manhã. Cheguei a sentir o calor de seu corpo ao meu lado e ouvi perfeitamente sua voz do jeito espevitado como falava.

Eu acordei assustada e corri para o quarto de minha mãe, que ainda não estava sentindo nada.
Alguns segundos depois, minha mãe acordou exatamente do jeito que ela falou que ia acontecer, e consegui reverter o quadro.

Não tenho qualquer explicação para isso, mas sei que ela estava lá naquela hora, trabalhando e sendo, mais uma vez, amiga.

Se é difícil sobreviver nesta situação, qualquer coisa é mais fácil.

Este site é o resumo de fatos verídicos, unidos de uma forma aleatória e tenta retratar a árdua tarefa de ser uma mulher madura nos dias de hoje, sem se preocupar com o que vão pensar, com preceitos e preconceitos idiotas que não levam a nada.

Só uma pessoa com sentimentos profundos poderá saber o quanto este espaço é importante e o quanto poderemos compartilhar de nossas experiências.

Muitas irão se reconhecer em fatos relatados. Algumas irão se identificar mais que outras; irão se encontrar e ver que o vale na vida é a simplicidade e a sinceridade. Isso é a base da nossa vida.

Dominar um computador e aprender a mexer em botões não é difícil, não. O difícil é ser mãe, quando a gente, na verdade, quer ser criança. Difícil é saber que o mundo exige da gente uma postura que não concordamos e tentamos moldar o nosso sentimento para podermos ser aceitas. Difícil é “não ter e ter que ter pra dar”, como cantou Djavan.

Peguem o menino mais novo da família e o ordenem a lhes ensinar tudinho que este computador bobo pode fazer por vocês. E naveguem nos seus mares, da mesma forma que vocês remam contra a maré e conseguem vencer a correnteza de suas dificuldades.

Sejam independentes dos seus medos, aqui e na suas vidas. Sonhem da mesma forma que eu tento sonhar e compartilhem conosco suas experiências. Ninguém nesta vida tem uma vida vazia. As mulheres estão aqui para serem plenas.

Eu dedico este site para minha família, aos amigos verdadeiros e a esta querida amiga.

Não há necessidade de dar nomes. Todos nós temos alguém para admirar. Pensem nas pessoas que vocês amam e verão que só muda o endereço, mas os sentimentos são coincidentes.

Nosso cantinho só vai sobreviver se ele for o descanso e o encontro do nosso ser.

Divirtam-se.

Leila Marinho Lage
http://www.clubedadonameno.com