Clube da Dona Menô
Dona Menô



Dengue. Até tu, Oswaldo?...


O dengue é uma praga não é? Quem é de outro país nem deve saber do que eu falo. Se eu disser que no Brasil até hoje morrem pessoas com dengue hemorrágico vão achar que eu estou falando grego... Ou melhor, africano, pois a doença veio da África.
O vetor é o mosquito Aedes, principalmente o Aedes aegypti. No Egito a doença foi reconhecida pela primeira vez há milênios, daí, a terminologia . O inseto chegou ao Brasil através dos navios negreiros, que traziam os escravos da África. Pelo clima tropical, houve adaptação da espécie e sua proliferação. O mosquito é também encontrado em outros países da América do Sul e no estado da Flórida, nos EUA.

Epidemia de dengue não tem nada a ver com falta de condições sanitárias, mas com o clima. O dengue é uma doença tropical. O mosquito põe seus ovos em água limpa parada.

Na Europa, por exemplo, o dengue não existe porque o mosquito Aedes aegypti não sobrevive, apesar de haver lá, ou em qualquer lugar, as mesmas condições para a sua proliferação (menos o clima): recipientes largados ao tempo, que guardam água da chuva,  tais como: tampas de garrafas, sacos, lixeiras, pneus.  Até um pequeno buraco na rua pode conter a larva do mosquito. É comum encontrar plantas e vasos de plantas com água limpa nas casas ou jardins, além de caixas d’água sem tampas ou mal tampadas.

A doença Dengue está vinculada à água limpa, não, ao esgoto. Pelo que sei, todos os fatores predisponentes para a postura dos ovos do mosquito fazem parte de qualquer cidade em qualquer lugar do mundo.

Não adianta apenas uma família se proteger se o vizinho não se protege. O descaso da população, aliada à incompetência governamental em vários setores, faz com que este enorme país seja foco. Nosso país é imenso. Não se pode comparar a um país pequeno. Temos matas (ainda bem); temos uma população enorme; temos cidades grandes. Gente de todas as condições socio-econômicas vem sendo sendo contaminadas da mesma forma.

Sei que é muito difícil ensinar tanta gente, que possuem hábitos e culturas diferentes. A sociedade só se une em jogos finais de copas do mundo ou no carnaval, mais nada.

Se eu for agora mesmo ao centro do Rio de Janeiro, em pleno dia, no meio da multidão trabalhadora, indo, vindo e se esbarrando nas calçadas, também verei uma criança cheirando cola e uma família de mendigos esmolando. Se o governo não consegue controlar a miséria que convive conosco na mesma calçada, como controlar uma epidemia insidiosa?

Se a gente não sofre de Dengue, pode sofrer de alguma outra doença contagiosa qualquer. O que me revolta é o seguinte:

A AIDS passou da fase de ser considerada doença de homossexuais ou de doença de gente promíscua. AIDS OU SIDA é um mal mundial e tem relação com contato com sangue contaminado (seringas não descartáveis, transfusão de sangue, gravidez e parto de mães com a doença) e com contato sexual, mesmo heterossexual.

Ainda se adquire AIDS atualmente, talvez no nosso meio em menor escala. Na África as ESTATÍSTICAS mudam - por vários fatores educacionais, comportamentais e históricos, que não vêm ao caso.

Ainda se usam em todo mundo seringas contaminadas entre drogados. Quando a pessoa se droga, não sabe o que faz, muito menos o que injeta ou se a agulha está esterilizada. Ainda se transa sem camisinha o tempo todo - o desejo sexual e o momento são o que impedem o raciocínio. O controle das bolsas de sangue está rigoroso, mesmo assim, ainda é possível de adquirir AIDS de um sangue transfundido “estudado”, pois existe o portal imunológico, ou seja, quando os exames não são capazes de detectar uma doença naquele material, de tão recente que foi a contaminação do doador – isso serve não só para AIDS, mas para as hepatites, principalmente.

Voltando ao Dengue

AIDS não é doença de gente suja, não é? Então, dengue também não.
 
A tuberculose há 2 séculos era o “mal do século”. Era uma vergonha ter tuberculose, até porque não havia tratamento específico. O bacilo de Koch sobrevive bem no ambiente oxigenado e é transmitido pelo ar, portanto, o pulmão é o órgão principal para seu desenvolvimento. Antigamente só havia uma forma (empírica) de cuidar destas pessoas: morarem em lugares de grande altitude, com teor menor de oxigênio. Apesar de os mais pobres ou desnutridos terem sido as maiores vítimas, antes da descoberta do esquema terapêutico, milhares de personalidades famosas morreram com tuberculose.

De novo ao Dengue

Há uma semana estive dentro de uma emergência de um hospital bacana. Obviamente nem todas as pessoas eram bacanas, mas a maioria provavelmente morava em locais bacanas, área de terem alto poder aquisitivo. A maior parte daquelas pessoas que lá procuravam atendimento naquela noite estava com dengue...

Dengue hemorrágico

O que acontece é uma hiper-defesa do organismo à presença do vírus. Resumindo: a pessoa doente tem um fenômeno de rejeição ao vírus (reação antígeno-anticorpo). Os fatores de coagulação do sangue são consumidos; há diminuição na produção de células sanguíneas pela medula óssea, principalmente as plaquetas, propiciando transtornos hemorrágicos e até o choque.

Existem 4 tipos de vírus do dengue. Cerca de 90% dos casos de dengue hemorrágico ocorre em pessoas anteriormente contaminadas. Aproximadamente 10% dos pacientes apresenta o quadro hemorrágico já na primeira contaminação.

Quem procura assistência médica logo nos primeiros sintomas e faz os exames poderá acompanhar seu quadro e evitar que o quadro hemorrágico seja fatal.

Curiosidades da história

Em 1493 o dengue contaminou os espanhóis quando da descoberta de Cuba, de ilha de Santo Domingo e em outras regiões da América, matando muitas pessoas. Cristóvão Colombo teria sido obrigado a mudar a capital da ilha de Santo Domingo porque o local inicial tinha grande número de mosquitos transmissores que infectaram e mataram uma proporção considerável dos colonos. O primeiro relato científico da doença veio de Cuba em 1782.

Na colonização da África a dengue, como também a febre amarela, a malária e a doença do sono, foram fatores que atrasaram a divisão do continente e penetração dos seu interior pelas potências européias até ao fim do século XIX.
 
História do Dengue no Brasil

Em 1865 foi descrito o primeiro caso de dengue no Brasil, na cidade de Recife. Dali pra frente sempre houve em todas as décadas epidemias da doença.

No final do século XIX o cientista Oswaldo Cruz implantou um grande programa de combate ao mosquito no Rio de Janeiro, que se prolongou por anos, entrando no século XX. Isso se deveu à febre amarela, pois o mesmo mosquito é o transmissor desta doença.

O Aedes chegou a ser quase erradicado no Brasil na década de 50, porém, na década de 80 houve uma epidemia de dengue em Roraima e de lá para todo o país.
 
Em 1986 houve uma epidemia de dengue no Rio de Janeiro e em algumas áreas urbanas do Nordeste. O responsável foi o vírus número 1. Em 1990 houve a introdução do vírus 2 no Rio de Janeiro, atingindo várias áreas do Sudeste. Em 1998, houve uma pandemia com mais de 500.000 casos no Brasil. Em 2000, o vírus 3 foi isolado no Rio de Janeiro. Uma nova epidemia de dengue aconteceu entre 2001 e 2003. Vários Estados do Sul foram atingidos pela primeira vez.
Estamos em pela epidemia, pelo menos nas principais capitais do país. Não preciso ler em jornais, ver na televisão ou na Internet. É só conversar com alguém que saberemos de algum caso. De acordo com o Ministério da Saúde, foram 35.700 casos (entre suspeitos e confirmados) de dengue no Brasil, além dos casos que não foram notificados, o que aumenta em número elevado esta estatística.

Passo um link para tomarem ciência da doença e de sua prevenção. É importante frisar que o mosquito se prolifera mais no verão e possui hábitos diurnos, o que faz com que várias pessoas sejam picadas até em seu ambiente de trabalho. Não obstante os métodos de prevenção já instituídos, recomendo que se use repelentes corporais durante o horário de 10 às 18 horas.
http://www.sucen.sp.gov.br/educacao/FAQDENGUE.htm

Leila Marinho Lage
Rio, março de 2008
http://www.clubedadonameno.com