Clube da Dona Menô
Dona Menô


Nem todo caroço é câncer
e nem todo câncer é caroço

 

A incidência de câncer de mama aumenta em todo o mundo, principalmente nos países mais desenvolvidos, sendo no Brasil a maior causa de morte por câncer nas mulheres do sul, sudeste e do nordeste do país. Só é superado pelo câncer do colo do útero no norte e centro-oeste.

Como não há efetivamente um modo de se evitar a doença, a investigação da mama deve ser realizada periodicamente. O protocolo é se fazer investigação da mama por mamografia a cada três anos (acima de 35 anos), a cada dois anos (entre 35 a 39 anos), a cada ano (de 40 a 49 anos) e acima de 50 anos deve-se fazer a cada seis meses.

Basicamente, a rotina é se fazer mamografia anualmente a partir de quarenta anos, ou mesmo antes. Por vezes, é necessário radiografar as mamas em períodos mais curtos, se estivermos acompanhando imagem específica.

Mulheres mais jovens podem ter câncer de mama, apesar de ser mais difícil, porém não tão raro assim.

Mamografia é o exame mais fiel para isso, apesar de muitas reclamarem de ser um exame doído pelo fato de as mamas serem comprimidas em uma chapa. Diante do benefício que traz, é irrelevante esta desculpa para se fugir deste rastreamento.

A Ultra-Sonografia das mamas serve principalmente para exame complementar. Serve para esclarecer a característica de um nódulo: se de aspecto sólido ou cístico (com líquido no interior).

O nódulo benigno mais comum é o fibroadenoma, que é bem delimitado, circular, endurecido e se move na palpação do mesmo, geralmente de um a três centímetros, mas podem tomar grandes proporções.

Os cistos têm características semelhantes e assustam porque podem surgir e crescer de repente. Muitas mulheres apresentam vários cistos mamários.

Os lipomas - tumores de gordura - são comuns em todo o corpo, inclusive nas mamas. São mais macios e sem qualquer malignidade.

O câncer das mamas tem geralmente uma evolução de alguns anos, antes de serem descobertos, podendo surgir como nódulos palpáveis ou não.

Um tumor de um centímetro tem aproximadamente um bilhão de células malignas. Pode ter levado anos para ser formado ou ter aparecido repentinamente, com crescimento relativamente rápido. Na maioria das vezes o câncer é indolor ou pouco doloroso.

As mulheres se preocupam com a dor mamária (mastalgia). Não é este o principal sinal de câncer. As alterações funcionais benignas das mamas (AFBM), vulgarmente chamadas de displasia mamária, causam mais dor que as doenças malignas.

É preciso ter certeza da origem de todo tumor palpável.

Um outro sinal a se investigar é a secreção nos mamilos (descarga papilar), que pode ser transparente, sanguínea, amarelada, esverdeada ou purulenta. Isso não quer dizer que seja maligno, entretanto é motivo de investigação pelo médico. A secreção leitosa normalmente está associada à elevação de um hormônio no sangue (a prolactina), mas pode ser de origem medicamentosa, por traumas ou ter causa ignorada. Na secreção transparente, serosa, purulenta ou sanguínea, principalmente em uma só mama, devemos colher o material para estudo e prosseguir investigação. Podem ter relação com malignidade ou não.

As mamas possuem canais como um leque, que se unem no mamilo. São os ductos mamários - responsáveis por levarem o leite da mulher para o exterior do corpo. O leite é formado no interior da mama, nos alvéolos (com formato de cachos de uva).

O câncer mais comum é o que se forma nos ductos – carcinoma ductal. As secreções eliminadas podem ser causadas por este tipo de tumor, mas isso não é comumente observado. Estas secreções podem ser originadas de tumores benignos, inflamações, infecções, etc.

Atenção às retrações na pele, geralmente ao se movimentar os braços, ou um aspecto semelhante à casca da laranja. Os tumores malignos crescem e se “grudam” aos tecidos ao seu redor, causando este tipo de retração, devido ao seu poder invasivo e destruidor.

Existe um tipo de câncer de mama que se inicia na mucosa do mamilo ou nas aréolas (o que circunda o mamilo). É uma lesão pouco avermelhada, descamativa ou ressecada, semelhante a um eczema e que, com o tempo, deforma a área aonde se localiza. Não causam dor e  quase não causam prurido (coceira) - É o carcinoma de Paget.

É normal passar despercebido pela paciente ou pelo médico e é comum tratarem como um problema de pele.

É importantíssimo o acompanhamento e a investigação por um ginecologista, mastologista e/ou um dermatologista toda vez que lesões persistentes no mamilos e aréolas não responderem ao tratamento para dermatites. A biópsia da região, para se retirar um fragmento do tecido, para ser examinado, dará o diagnóstico.

Os tumores malignos inflamatórios de mama são raros e podem ser confundidos com mastite (inflamação ou infecção na mama). São altamente agressivos e, por isso, toda inflamação na mama sem uma causa definida tem que ser investigada.

Mesmo sem um nódulo palpável, outras alterações devem ser relevadas, tais como: endurecimento e aumento de uma área e o crescimento rápido de uma mama.

É importante se falar que nem sempre a mamografia descobre imediatamente um tumor maligno, principalmente em mamas densas, onde a radiografia não detecta nada além da imagem de uma glândula compacta.

Na mamografia podemos observar, além de nódulos, imagens radiológicas suspeitas, tais como: retrações, micro-calcificações agrupadas, densidades assimétricas, gânglios linfáticos aumentados ou estruturalmente alterados, etc.
 
Na mamografia, é rotineiro se usar o termo “imagens sugestivas”, porque é a investigação mais aprofundada que vai determinar o diagnóstico definitivo.

Sendo assim, usamos uma classificação pelo sistema BIRAD
(Breast Imaging Reporting and Data System), que vem no laudo da mamografia e da ultra-sonografia, e serve para
enquadrar o tipo de lesão encontrada na mama:

Categoria 1: mamografia normal
Categoria 2: achados benignos
Categoria 3: achados provavelmente benignos (necessitam estudo mais detalhado em curto prazo, no mínimo 6 meses)
Categoria 4: achados suspeitos (necessita estudo mais detalhado)
Categoria 5 : achados altamente suspeitos (estudos mais detalhados)

Há ainda a categoria 0, que significa que o exame tem que ser complementado por outros, para maior estudo, como a ampliação radiológica (magnificação), ultra-sonografia, etc.

Os gânglios linfáticos, que são comuns nas axilas e no interior da mama, podem apresentar aspecto suspeito na radiografia ou na Ultra-Sonografia.

Um gânglio palpado na axila significa que o mesmo está aumentado. Por ser muito comum este aumento ganglionar, principalmente em doenças que exigem a defesa do organismo (viroses, infecções bacterianas, etc), não é aconselhável entrar em pânico, porém, se o mesmo nunca desaparece, é importante procurar um médico para saber qual é a causa – se relacionado a um câncer ou a outra doença que os faça aumentar de tamanho.

Os tumores de mama, que precisam um estudo mais detalhado, podem ser retirados numa pequena cirurgia, serem puncionados com agulha fina ou por um aparelho especial (core biópsia).

Como a região a ser puncionada, às vezes, é impalpável ou inacessível ao médico, necessitamos de visualização desta região através da mamografia ou ultra-sonografia na hora da punção ou biópsia.

Quando precisamos retirar um nódulo ou uma área da mama por cirurgia, mas estes são impalpáveis ou de difícil acesso, recorremos à estereotaxia - que é a introdução de um fio metálico muito fino (orientado por mamografia ou ultra-sonografia, dependendo de cada caso), que alcança a área em questão, e é fixado a ela. Dali, a paciente parte para a cirurgia.

Todo tecido retirado, como também a coleta de secreções das mamas, são levados para estudo microcópico das células (histologia e citologia).

A Ressonância Magnética e a Tomografia não são exames de rotina e ainda não substituem os exames tradicionais - Mamografia de Alta Resolução e Mamografia Digital.

Só o médico pode decidir se o acompanhamento será por exames de imagem ou se o estudo das células da área suspeita é necessário e imediato. Para isso, é preciso seguir protocolos e bom senso.

Estágios do câncer de mama:

Pode evoluir rápido ou lentamente - depende de cada pessoa.
Pode ser localizado (“in situ”) ou ser invasivo.
Pode estar apenas na mama ou ter se disseminado para os gânglios linfáticos.
Pode se disseminar através da circulação linfática e/ou sanguínea e se instalar em outros órgãos (metástase). Os principais órgãos que são afetados por metástase são: osso, pulmão, fígado e cérebro.

Geralmente a paciente apresenta câncer em uma só mama, mas esta patologia pode aparecer bilateralmente (concomitante ou em épocas diferentes), principalmente no carcinoma lobular - um outro tipo de câncer de mama.

A detecção precoce, através do exame médico de rotina e o auto-exame das mamas são o sucesso para a cura nos casos iniciais ou para maior e melhor sobrevida nos casos mais graves.

Todo tumor maligno é estadiado quanto à sua invasão e seu tipo celular. Isso é que define o tipo de tratamento a ser determinado.

Em outros textos darei atenção a dois tópicos extremamente relevantes:

1) Os fatores de risco e o que se pode fazer para evitar o câncer de mama.
2) O auto-exame das mamas.


Dra Leila Marinho Lage
Ginecologia e Obstetrícia
CRM 52-38501-5