Clube da Dona Menô
Dona Menô
CADÊ O OVO?!


 
Gisa, aqui é MenÔ

A respeito de sua receita de farofa sueco-brasileira, como é que pode alguém comer farofa sem ovo?! Aí há galinhas, não? Ou será que o frio congela o rabicho delas? Por falar nisso, o cheiro verde de sua receita é natural ou em pó? Como fazem para comerem verduras a 20 graus abaixo de zero? E a farinha de mandioca? Vocês também cultivam mandiocas? Eu amo mandioca em tudo...
 
Garota, farofa sem ovo é o mesmo que:

Beijo sem beiço
Banho sem sabonete
Bunda sem botox
Bom dia sem abraço
Bíblia sem bondade
Birita sem bebum
Bagagem (intelectual) sem besteira
Baralho sem bagunça
Bacana sem bobagem
Beleza sem brilho
 
Sou maluca por ovo. Se perguntarem para mim qual o prato mais gostoso do mundo e por qual eu trocaria qualquer outro, certamente diria que é ovo frito, e com arroz fresquinho (Que Deus conserve meu colesterol e açúcar sempre baixos...).
 
Farofa com ovo mexido é bom na feijoada e no churrasco. Lembra quando você comia numa churrascaria daqui? Qual era o acompanhamento que pedia, heim?!
 
Taí... Quando a gente montar nosso restaurante sueco-brasileiro, para exportarmos quentinhas com arroz, feijão e salmão para o mundo, podemos incluir a farofinha de ovo...
 
São duas as razões para os brasileiros gostarem tanto de ovo:
 
Ovo é barato. Associado ao arroz, que dá sustança, faz-se um cardápio ideal para um peão encarar o dia. Juntando o feijãozinho de Telma, dá até para construir uma pirâmide de Hamsés.
 
O português nos educou assim, uma vez que lá na terra dele o ovo era tradição na culinária. Tudo do ovo se aproveita: clara, gema e até a casca. Nos séculos 18 e 19 havia fartura de ovo em Portugal; a maior produção mundial na época, principalmente para o proveito das claras, que serviam para a purificação do vinho branco, para engomar as roupas e até fazer hóstias.
 
Como sobravam as gemas, estas eram oferecidas aos porcos. Depois passaram a oferecer aos monges e freiras...
 
Logo o clero aprendeu a misturá-lo ao açúcar (de cultivo farto) e inventaram os famosos doces - a maioria, com nomes religiosos: barriga de freira, toucinho do céu, papo-de-anjo etc. São famosos os ovos moles de Santa Clara, vindo do Real Mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde, que renderam a maior grana para a turma que estava no sufoco. Afinal, ainda não havia surgido as vastas opões de emprego informal - eles não conheciam o centro da cidade do Rio de Janeiro...
 
Cara, eu quero comer pastel de Belém in loco! A primeira coisa que eu vou fazer ao chegar em Portugal, já do aeroporto, é pedir um pastel deste. Aqui a gente só o come em casas mixurucas por aí, e que me dão azia. Eu acho que eles misturam muito amido de milho na coisa. E o que comemos são pastéis de nata, com um pouquinho de gema pra disfarçar. Eu quero o verdadeiro!

A partir de 1820 iniciou-se a Revolução Liberal em Portugal. O clero começou a ser expulso e os trabalhadores ficaram desempregados. Em 1834 não havia um santo padre na paróquia.

Em 1837, lá em Belém, pertinho do Mosteiro dos Jerônimos e da famosa torre, Domingos Rafael Alves, dono de uma refinaria de açúcar, fez uma bela sociedade com um pasteleiro que tinha sido desempregado do mosteiro. Eles conseguiram inventar a receita ideal de um doce com ovos. Como começou a aparecer turista de todo canto para saborear a iguaria, os sócios, e depois, seus descendentes, mantiveram a receita em segredo. Para se trabalhar na fábrica deveriam todos os funcionários fazer um juramento de manterem o segredo da confecção deste doce. E assim é até hoje na “Fábrica do Segredo”.
 
Tá certo que se come pastel de Belém em todo canto de Portugal, mas eu quero o verdadeiro! Afinal, eu tenho tudo a ver com ovo e o pastel de Belém. Olha só:
 
Tudo de mim se aproveita - por dentro e por fora.
Sou gostosa, exclusiva e autêntica.
Deus me fez e jogou a fórmula fora.
Tem um monte de gente por aí querendo me comer sem poder.
Todo mundo imita, mas ninguém faz igual.
 
Voltando à farofa, pois eu já estava na sobremesa, vamos pedir para Alberto, nosso amigo em comum, mandar uma cartinha lá do norte de Portugal, dizendo como ele fez ou faria sua farofa portuguesa?
 
Isso tá virando um tititi culinário-cultural...
 
Beijão carioca da MenÔ!
Rio, 18 de setembro de 2008