Clube da Dona Menô
Dona Menô

O fogo da paixão 

No ano passado o dia dos namorados foi trágico. Ela queria uma coisa sensual e romântica, mas ele não entrou bem neste clima. Na verdade, ele entrou bem...

Ela quis comprar uma camisola e pediu a opinião dele quanto à cor, já que o mesmo não demonstrou desejo de comprar uma para ela.

- “Tanto faz, meu amor. A gente vai tirar na hora...”.

Parecia que era um convite a uma grande noite. Ela disse que ia comprar uma sunguinha bem sexy para ele e perguntou a cor que mais gostava:

- “Azul Nossa Senhora...”.

- “Dá pra deixar a santa fora disso?!”.

- “Disso o quê, caramba?! Deixe-me ver o futebol. Parece que tá com o diabo no corpo...”.

Ela não se fez de rogada e no dia seguinte atacou logo pela manhã:

- “Querido, nós vamos hoje a um motel...”.

- “Tá doida! Já viu a fila que vai fazer?!”.

- “Reserve, ora!”.

- “Ah, tá legal... Eu vou ligar para o lugar e perguntar se eu posso reservar uma hora e meia para uma trepadinha...”.

- “Uma hora e meia nada! A noite toda!”.

- “Pra que gastar se a gente tem a nossa casa?!”.

- “Porque casa não é motel!”.

- “Banheira contaminada...”.

- “Sem problemas. Eu levo detergente”.

- “Lavei o carro ontem. Já ultrapassei minha quota com faxina”.

- “Não seja estraga-prazeres! Motel! Motel! Motel!”.

Não tinha jeito. Ela queria porque queria ir a um lugar diferente, que pudesse aquecer aquela relação já tão desgastada pela rotina. Ele concordou a contra-gosto e tentou até chegar junto:

- "Benhê, eu vou ter direito a tudo?...”.

- “Tudinho... To com o maior fogo! Vou te incendiar!”, disse ela.

- “Oba!...”.

Excitados, não se deram conta que esperaram mais de uma hora para conseguir um quarto. Ele não quis passar o vexame de ligar. Era muito reservado e essas modernidades não combinavam com seu jeito, a ponto de olhar para todos os lados para se assegurar de que nenhum conhecido os via, apesar de serem casados havia muitos anos.

- “Que é que tá olhando tanto? Sente vergonha se algum amigo te flagrar indo comer sua própria mulher, é?! Vai ver, não se esquentaria se fosse uma vagaba aqui do teu lado...”.

- “Vai começar? A gente veio aqui pra transar ou pra brigar?".

Não era hora de ela mostrar as garrinhas, só as garras de uma leoa no cio, isso sim. Desta forma, recolheu as armas e foi à luta com outras. Mas ela tinha um trunfo nas mãos, ou melhor, na bolsa: “o fogo da paixão", umas bolinhas que comprou de uma amiga revendedora de produtos pornô.

Pelo que ela leu no manual, deveria introduzi-las imediatamente antes do congresso sexual... A amiga afirmava que dava uma sensação maravilhosa no casal quando dissolviam na vagina.

Ela quis fazer surpresa com as tais bolinhas e deixou para contar quando ele já estivesse em prática. De repente ele olha para ela quase que vidrado. A princípio ela pensou que ele estava tendo o maior orgasmo de sua vida, mas logo ele disse apavorado: “Perdi meu pênis!”.

- “Como?!”.

- “É!!! Não to sentindo meu pênis! Será que eu to tendo um derrame?”.

- “Não se perde pênis numa vagina, idiota! E você não está paralítico de pênis. São as bolinhas da paixão. Elas estouram lá dentro. É pra dar uma esquentada na coisa...”.

- “Meu Deus! Agora tá ardendo tudo!”.

- “Então, vá rápido lavar!”.

Quando ele entrou no chuveiro ela ouviu seu grito, dizendo: “AAAAAI!!! É esse o fogo que você me prometeu, miserável?!”.

Lamentável... Ele chegou àquele motel como um orangotango e agora pulava de lá pra cá que nem um mico leão.

- “Caramba! Meu pinto inchou dos lados e encolheu na ponta. Tá parecendo um molusco do mar!”.

-  “Deixe-me ver... Hum... Olha, tá mais parecido com a almofada lá da sala... É melhor irmos a uma emergência”.

As palavras dela não caíram bem. Era um constrangimento pelo qual ele jamais pensou passar, mas não havia outra solução.

No carro ele treinava o que deveria dizer ao médico e se negava a contar a verdade.

- “Não se mente para um médico, querido...”.

- “Ok... Na hora eu invento qualquer coisa. Acelera o carro!”.

Ele amparava seu órgão sexual entre as mãos, com medo de que o mesmo explodisse. O jeito foi abrir a calça e colocar o casaco por cima. E assim entrou todo sem jeito no hospital, sentado na cadeira de rodas que o atendente lhe ofereceu.

Ele descreveu ao médico o que sentia. Depois de ser examinado, o médico perguntou o que ele tinha aplicado no local. Ele não falaria jamais; era muito desconcertante aquela situação toda.

- "O senhor passou alguma substância química na sua região genital ou está virando um vegetal e nascem papoulas aqui embaixo... Fale a verdade, por favor...”.

- “São aquelas bolinhas que ardem, doutor!”.

- “Meu senhor, bolinhas que ardem são herpes. Isso tá parecendo queimadura de segundo grau!”.

- “O senhor não entendeu. Foram as bolinhas da paixão...”.

No adiantado da hora, ela se encontrava sentada de pernas cruzadas e braço no encosto de uma cadeira, apoiando a cabeça, quase cochilando, mas teve condição de explicar melhor:

“As bolinhas que ardem se chamam o fogo da paixão, doctor...”.

- "Não sei do que se trata...”, disse o médico.

- “Não perdeu nada”, disse a vítima.

O médico quis ler a bula, o que pôde fazer, uma vez que ela guardava a embalagem na bolsa.

- “Este produto é desaconselhável para crianças” - o médico se controlava para não rir - “Sua composição contém piruvato de contorcilla, amortecerilina e ardiasola. Evite se expor ao sol após sua aplicação - bem lembrado. Sua ação máxima é imediata e o efeito pode permanecer por algumas horas. De uso externo, tópico, podendo ser aplicado em mucosas e usado em cavidades vaginal ou retal... Como qualquer medicamento, podem ocorrer efeitos adversos, tais como reações alérgicas ou irritação local. Na persistência dos sintomas, procure orientação médica etc etc etc...

Que bom que o senhor veio logo... Por acaso o senhor introduziu esta mesma substância no...?”.

- “Epa! Pera lá! Eu não introduzi nada em lugar nenhum! Quem introduziu foi ela!”.

Ela, que neste momento não se continha de tanto sono, acordou com o protesto veemente do marido e justificou:

- “Doc, o caso é o seguinte: eu introduzi as bolinhas em mim e depois foi ele que me introduziu...”.

- “Não precisam explicar mais. Ele está com uma bruta alergia. Vamos medicar e observar por algumas horas. A senhora sente alguma coisa?”.

- “Eu?! Nadica de nada... Só um frescor agradável...”.

Ele saiu pela manhã cheio de antialérgico na cuca e com a orientação de colocar compressa gelada na área até desinchar. Uma semana depois a pele toda soltou e seu pênis reapareceu como uma borboleta saída do casulo.

Este ano ele resolveu comemorar o dia dos apaixonados num shopping, por motivos de segurança: ela oferece menos perigo em público...

Leila Marinho Lage
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