Clube da Dona Menô
Dona Menô

Meu bobó
É pavê ou pra comê?




Esta é a última crônica sobre "O meu bobó. Pedi licença à Dona Menô pra a escrever.

O tal jantar do bobó saiu neste último sábado. A princípio, parece um diário com cara de Blogger, mas a energia que foi passada no dia foi muito grande e talvez eu nunca consiga transmitir em um texto. Não sei se vai dar saudade nos outros, mas em mim dará. Lembrou os tempos em que minha família se reunia.

Tive três anestesistas na minha equipe, em épocas diferentes. O primeiro, Norberto, sumiu; depois conheci Jailton José Rezende, que trabalhou comigo por anos e passamos "bons bocados" profissionais. Como ele sempre teve vontade de retornar à sua terra natal, Além-Paraíba, Minas Gerais, Jailton me "deu de presente" Israel, que trabalha comigo até hoje e, infelizmente, não esteve no jantar - haverá outros...



Revi a esposa de Jailton, Cristina, fisioterapeuta, suas filhas, e conheci o temporão, Antonio, um guri lindo e extremamente educado - comeu quietinho e nem pediu bife com batata frita.

Depois de (eu acho) uns 15 anos reencontrei este amigo maravilhoso, calmo, paciente, super inteligente, que se encantou com psiquiatria e hoje trabalha com a clínica da dor, lá em Minas. Fora que nas horas vagas vai para roça capinar.

Este bobó não poderia ser compartilhado apenas com uma família. Bobó se come em grupo - como o fondue, só que em outro estilo (mais eclético) Os dois pratos lembram comunhão. Como sempre faço, decidi fazer com que gente bacana conhecesse gente bacana, e chamei outras famílias amigas.

Ignorei a falta de espaço e chamei mais gente do que as minhas cadeiras comportavam. Ainda bem que Dejê, minha secreta, estava lá com seu marido Paulo para me render. Ela achou até bancos de plástico de box. Como todos já sentaram em muitos bancos piores na vida, ninguém nem percebeu...

Paulo, sempre se fingindo de sério, sentou no sofá, enquanto eu Dejê lutávamos contra o tempo, esquentando e reesquentando um namorado no forno, além de um caldo de mexilhão, arroz ( que foi "batizado" com manteiga, pois ficou insosso - odeio sal) e antepastos, como pasta de salmão, de alho tomate seco, queijo minas com orégano e azeite, castanha de caju e sei lá mais o quê...



Paulo apagou as luzes do lustre central da sala, sem mais nem menos. Perguntei porque estávamos na penumbra e ele disse que "não gostava de gastos de energia elétrica à toa". Posteriormente vim a saber a verdadeira razão.

Pra ser politicamente correta, e por ter chamado Isabel Loureiro, natureba na alimentação, amiga de muitos anos, fiz uma saladinha básica de verduras e palmito, que, por sinal, sobrou todinha... Rebeca, a filha, minha parceira em alguns trabalhos, dignos de um adulto, come pela mãe - ela saiu como o pai, meu amigo Carlos, fotógrafo e apreciador dos prazeres de Baco (no que diz respeito à comida e aos vinhos...). Graças a Deus que levaram vinhos (tintos, brancos e espumantes), porque, se dependesse de mim, só haveria os destilados.



Vi minha secretária brincando com a boneca de Rebeca. Não achei nada demais, uma vez que quem trabalha comigo não pode ser lá uma pessoa tão normal assim...

Eu estava suada, desarrumada e cansadíssima de uma semana dura, mas feliz. Comprei tudo o que eu imaginava dar prazer aos amigos. A cerveja estava lá pra todo mundo. Primeiro acabou a Itaipava e depois foram de Skoll mesmo...

Conforme o pessoal chegava, e a esta hora o peixe já estava até seco de tanto ser retemperado, percebi que cada um que chegava desatarraxava uma lâmpada do lustre, que fora reaceso. Ou eu sou cega, ou todos, depois de uma certa idade, ficaram com fotofobia, pois reclamavam da iluminação forte. Com isso, a iluminação para as fotos ficou ruim. Mas, tudo bem, pois eles também não perceberam...

Aproveitei para pedir a Carlos para consertar meu DVD da sala, o qual foi retirado por ele do lugar. Perguntei a razão e ele disse que era pra jogar no lixo, perguntando qual era a próxima coisa a consertar. Ainda tentei arriscar uma reparada em alguns programas do meu computador, mas os não internautas me olharam atravessado e eu deixei o pc de lado...

 A certa hora a casa estava uma zona: sofá desarrumado, almofadas no chão, milhares de copos (um tipo pra cada bebida), que eu tenho mania de colecionar, espalhados pela casa. Acabou a turma bebendo martini em copo de cerveja e tudo bem. Nada que uma bela cereja não desse o toque charmoso...



Jorge Luiz da Silva Alves, amigo escritor, deu uma passadinha por lá. Ele estava querendo saber se uma escritora médica poderia entender de bobó. Ele é fissurado em alimentos do mar e adorou a casquinha de siri que eu fiz de entrada. Acabou levando um pouquinho de cada coisa, que eu espero estar sendo o seu almoço...

Faltava o bolinho de bacalhau! Nunca pode faltar o bolinho! Fátima Pires, minha amiga nutricionista, comprou um pouco a tempo no Rei do Bacalhau. A tempo, mas não tanto, pois acabou antes de Jorge chegar.

Fátima é uma pessoa espiritualizada. Ela é esotérica mesmo antes de isso virar modismo, e estuda profundamente as coisas que para muitos é um mistério.  Ela tem uma teoria simples na vida: não importa a religião, a crença. O que importa é o amor entre as pessoas. E isso Fátima tem em excesso.

Nunca lembro do nome de seu filho, Daniel, pois o chamo pelo apelido, o nome do remédio que fez com que eu o "fizesse", Parlodelzinho. O mais novo, Rodrigo, o Puranzinho, ficou em casa.



Ricardo, marido de Fátima, contava vantagem pra turma: "Eu sou um cara que só anda de táxi! Não importa aonde seja, eu vou de táxi!". O pessoal olhada incrédulo. Ricardo é motorista de um.

Este casal já andou lá por Portugal para trabalhar e viver. O sol falou mais forte e voltaram. Ainda bem para mim...



O ponto forte do jantar, além do bobó, teria que ser a sobremesa. O problema era que eu não tinha muito tempo para tanta coisa, além de não gostar de doces. Decidi fazer o pavê de chocolate que está no meu site, em Dicas de Dona Menô, com o título "Como molhar o biscoito". Ele é delicioso, leva chocolate em calda por cima. Eu não encontrei chocolate de culinária e taquei três barras de chocolate comum, misturando com creme de leite. Coloquei na geladeira e me ferrei. Aquilo lá virou uma carapaça dura, pior que a camada dura da terra, pior que um iceberg. Minha secretária, como toda boa secretária, se adiantou para me ajudar e, entre resmungos e choros de risos, experimentou todas a facas para o cortar. Ela conseguiu com uma faca de pão com serra e um facão.



Olha, gente, ele podia estar feio, mas só sobrou um pedacinho da superfície, aquela que não deu pra roer. Ele parecia uma coisa disforme, mas, poxa, quantas coisas disformes comemos e não reclamamos?!

Legal foi ver os homens indo pra cozinha lavar a louça e tirar as coisas da mesa, ao final de tudo. E isso sem ninguém mandar! Ou são ótimos maridos, ou o teor alcoólico os deixou com pena de mim.

No domingo quase não tive muito sacrifício pra arrumar tudo. Só demorei umas poucas horas pra achar o abridor de lata e o meu adoçante, que estava embaixo das batatas numa cesta. Até mesmo o sifão da pia da cozinha não me deu muito trabalho pra ser desatarraxado, para que eu retirasse os pedaços de palitos e caroços de azeitona!

Está combinado para o inverno um caldo verde. Neste vou chamar mais gente. Porém, vou ter um cuidado a mais: Farei no playground do prédio...

PS - um recado pra minha secretária:  Hoje, segunda-feira, achei sua salada de frutas. Estava dentro da gaveta da geladeira, junto com a farinha de trigo. Virou um sorvete azedo...

Leila Marinho Lage
Rio, 17 de março de 2008
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