Clube da Dona Menô
Dona Menô

Nem tão Hipócrates, nem tão Sade

Tive uma conversa com um amigo, Nickinho. O assunto era "os temas em medicina e a forma com que escrevo". Ele falou algo assim: "Gosto da forma com que explica as coisas: nem tão Hipócrates, nem tão Sade".
 
Por outro lado, em algumas ocasiões - raras, ainda bem - sou interpretada de outras formas. E, aí, entra a minha análise de quem me lê e de mim mesma. Portanto, falarei sobre mim e ao que vim.
 
Não entendam como uma satisfação, nem como desabafo, muito menos como minha defesa. Nada disso cabe neste texto. Apenas uma análise reflexiva, que deve servir como base para muitos que escrevem.
 
- Ser escritor, mesmo amador (porque escrever um livro não significa ser profissional, ser bom ou ser importante) é uma responsabilidade enorme, ainda mais na Internet. Tudo o que escrevemos poderá ficar registrado eternamente. Poderá servir como prova, como álibi, como nosso espelho, nossa marca registrada. Nada fica sem uma crítica (boa ou ruim), nada passa impune, nada passa em vão. Temos que ter uma personalidade muito forte, sermos conscientes de nossos valores e sabedores em defender nossos pensamentos, convicções, direitos e deveres.
 
- O ato de escrever publicamente pode ter várias justificativas, mas o mais óbvio é que usamos um veículo de informação para nos fazer presentes, úteis, admirados, para satisfazermos nosso ego, sermos reconhecidos. Até quem nos envia um artigo interessante de outra pessoa, quem envia uma foto curiosa ou qualquer material divulgado virtualmente está dizendo: "Estou aqui, olhe o que eu lhe enviei".
 
- Interesses financeiros existem também, mas ai de quem achar que no Brasil alguém ficará rico e pagará suas contas com seus textos em livros e revistas... São poucos. E pra se chegar lá é necessário muito mais do que qualidade, amigos. Tenho visto muita gente sem qualidade sendo estrela, apesar de ser satélite - ou nem isso...
 
- Escrever é uma evolução, é estudo, uma procura incessante pelo aperfeiçoamento, é pesquisa, é autodescoberta, autoanálise. Escrevemos primeiramente para nós mesmos, depois para o mundo. Quando se acredita em sua própria capacidade, assim deve-se pensar: Quem quiser ler, entender, partilhar conhecimentos ou lazer, que o faça. Entretanto, quem não tiver essa capacidade, deve ser considerado também. Nem sempre as pessoas são capazes de nos compreender ou nos aceitar. É livre arbítrio, liberdade de expressão, é democracia.
 
Ouçam quem lhes criticam; saibam que pensamentos eles expõem; percebam o que querem dizer, suas restrições, seus conceitos e preconceitos, o que ignoram e o que sabem mais que vocês. Até mesmo aquela pessoa que achamos ser "menor" tem seu valor, pois nos ensina caminhos e táticas.
 
- Defendam seus direitos; defendam a experiência que adquiriram; não deixem que lhes apaguem aquilo que mais valorizam e conceberam como verdade. Lembrem que milhares de personagens da história mundial viveram no ostracismo e somente ao longo de décadas ou séculos é que foram reconhecidos. Eu penso: Não havia tempo para essas pessoas serem admiradas. Elas tinham uma meta, uma finalidade, uma sina, um destino, um ideal. Este ideal transpunha até mesmo a realidade. Este ideal ignorava a matéria em função da realização pessoal.
 
- Não se abatam quando fracassarem. Não desanimem se errarem. Nada é mais digno que o reconhecimento de suas fraquezas, de suas restrições, se há vontade de se aperfeiçoar, de crescer.
 
Dou muito VALOR a quem não o tem, mas que luta para o ter. Conheço pessoas que em pouco tempo conseguiram o que muitos levam uma vida inteira para tal. São pessoas especiais, que vieram para cumprir etapas na vida, e só conseguiram construir seus sonhos muito tarde em relação aos outros, mas, ao conseguirem, mostraram que tudo é possível quando se tem força de vontade.
 
- Nem sempre o que é muito lido é bom. Nem tudo que se joga na mídia tem valor. Nem tanto, nem tampouco. Se tudo é relativo, então o absoluto é nada. Saibam entender o que vocês querem quando escrevem. Procurem se ver por dentro quando colocam algo no "papel". E aguardem réplicas, aguardem contestações e protestos. Esperem por pessoas de nível abaixo do seu, querendo lhes diminuir apenas para poderem aparecer na sombra de suas luzes.
 
- Cuidado com a Internet, principalmente. Muita gente que usa um computador está do outro lado com más intenções. Lobos em pele de cordeiro. São pessoas negativas, solitárias e frustradas. São pessoas que não tiveram oportunidade de se relacionar espiritualmente ou amorosamente na vida real; são pessoas sem "berço" e procuram rebaixar quem "nasce". Por outro lado, é este mesmo veículo que nos leva a mundos maravilhosos, com recursos incomparáveis para quem souber administrar os inconvenientes. É fonte de contato (até mesmo profissional), é caminho para grandes amizades, mas deve ser encarado como mais uma ferramenta, não a única. O mundo corre lá fora e dispensa conexões cibernéticas.
 
Meu perfil (ou autodefinição):
 
Se eu disser que sou linda, terei muitos admiradores... Não quero admiradores que não possam pelo menos rachar o preço do sanduíche da esquina comigo e que não possam de vez em quando me dar um beijo na boca. Então, eu não sou bonita. Sou "normal" e passaria despercebida numa festa ou na praia. Tenho uma cabeça e esta pensa. Apenas isso.
 
Se eu disser que faço parte da nata da sociedade, estarei mentindo feio. Nem sempre médico (bom) ganha bem. Portanto, sou pobre. Rica em questão de amores, muitos amores, que levarei para além desta vida. Isso não tem preço. Isso nenhum dinheiro paga.
 
Não preciso ser famosa através de páginas de escritores ou do meu site. Eu já sou famosa. Minha fama foi construída durante minha vida toda. Pode o mundo não me conhecer, mas o meu mundo me conhece e isso é o que importa. Não pretendo me promover. Tudo ao seu tempo. Se um dia eu ficar "mais" famosa, vai ser consequência casual, porque eu tenho mais o que fazer na minha vida. Uma delas é sobreviver.
 
Eu sempre fiz palestras, sempre fiz peças de comédia, sempre trabalhei em público, sempre escrevi. Sempre lidei com gente de toda espécie. Não é de hoje que eu conheço a alma humana. Vejo a morte todos os dias ou a iminência desta; vejo o nascimento de um ser; luto para salvar seres - e o faço mais do que por obrigação, mesmo que por muitas vezes eu queira desistir de ser médica e passar a vender canga na praia. Muito do que sou, devo à minha família, principalmente à educação e à proteção de meus pais.
 
Quando eu coloco num texto termos engraçados, debochados ou picantes, eu sei o que escrevo. Nada é escrito ao deus-dará. Quando falo alguma "sacanagem", sei o que estou escrevendo. Cada texto publicado foi muito ponderado. Não é um qualquer que vai denegrir qualquer ato meu. Precisam ser muito competentes para macular algo que eu tenha feito, e sejam bem sucedidos. Ninguém até hoje conseguiu tal feito. Mas não queiram mexer com quem está quieto. A gente guarda armas quando se é ferida, mesmo que não as use.
 
Considero minha forma de escrever fácil de entendimento e escrevo para leigos. Procuro passar conhecimento. Quando faço um texto, principalmente médico, preciso estudar muito, inclusive pensar se estou sendo entendida perfeitamente. Mesmo que eu saiba sobre o assunto, demora muito para eu conseguir realizar um artigo. Isso leva muitas horas de cansaço.
 
Já me perguntaram porque eu fico perdendo tempo na Internet e por que eu gosto de ficar de "papo no pc" - como se minha vida fosse salas de chat e sites de relacionamentos virtuais... Só posso entender essas pessoas como gente que não abrange a minha capacidade intelectual. Mas as ouço. Sempre ouço todo mundo. Os meus inimigos são minhas armas; os invejosos, o meu incentivo; gostarem do que eu faço é a minha satisfação.
 
Quando escrevo, pouco uso o pronome "eu" para comentar sobre assuntos médicos ou sobre temas que tenham relação com sexo ou envolvimento sexual. Minha vida pessoal só interessa naquilo que já escrevi sobre meu passado. O resto fica por conta da fantasia de quem me lê. Poesias, frases, crônicas, pensamentos, que porventura foram escritos, possuem, em certo momento, algum cunho pessoal, óbvio, mas, com certeza, não será através deles que me conhecerão plenamente. Escrevo para que SE conheçam.
 

Leila Marinho Lage
Rio, 2 de março de 2008