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Sete Pecados - Niccette Bruno e Ary Fontoura

Agora entendo porque estou ouvindo o tempo todo as pessoas falarem sobre os sete pecados capitais... Como nunca vejo TV, não sabia que está passando uma "novela comédia" chamada Sete Pecados, de Walcyr Carrasco.

Tirei este sábado para ter um exótico comportamento: fazer nada! E deitei, e dormi, e liguei a televisão despretensiosamente. Presenciei uma das melhores atuações teatrais que eu possa me lembrar (e justamente num capítulo de novela, ao que eu, a princípio, odeio assistir).

Isso tudo por conta da interpretação de um casal de atores de peso - Niccette Bruno e Ary Fontoura. Também, pudera! Imagino a gama de emoções por qual passaram estes dois artistas, sendo dirigidos por Jorge Fernando (outro ator maravilhoso). Tenho certeza de que Jorge Fernando (apesar de ser um palhaço, no bom sentido da palavra) andou chorando...

Pelo que vi, a comédia e o drama se mesclam nesta novela. Não sei direito o enredo, mas, com certeza, este capítulo deveria ser relembrado por aí, pois os dois deram um banho de competência e maturidade profissional. Não tanto pelo que falaram, mas pelas suas expressões faciais.
 
Romeu e Julieta, suas personagens, representam a manjada obra de Shakespeare. Só que na estória eles atuam como um casal na terceira idade que se reencontraram e se casaram. Não seria nenhuma novidade, não fosse pelo fato de eu ligar uma televisão e ver de graça uma mini-peça de teatro, que me fez também chorar ainda por alguns segundos após seu término.

"Romeu" quase não falou; apenas retrucava as argumentações de sua amada. Nem precisava: a emoção rolou nos olhos.

Ju, sofrendo de leucemia, tinha que decidir se arriscar a um transplante de medula óssea, passando pelos efeitos deletérios de uma quimioterapia, o que, principalmente pela sua idade, poderia ser fatal. Ela decidia entre apenas esperar a morte ao lado de seu amor ou enfrentar o tratamento para ter mais tempo ao seu lado.

-"Vou ficar sem cabelo", dizia Ju. Romeu respondia que isso não tinha importância.

-"Vou dar trabalho", ela rebatia. Romeu se recusava aceitar aquilo como desculpa.

Mas, a parte mais emocionante foi quando Niccette, com aquele olhar hipnotizador, em contraste com a candura do olhar de Ary, fez um minúsculo monólogo(lamentavelmente, a regra de uma soap ópera) e falou algo mais ou menos assim:

"Eu pensava que ia passar o resto de minha vida cuidando dos netos, até que eu lhe encontrei. Eu sou uma mulher de sorte porque acordo todos os dias e vejo que sou muito feliz".

Parece tão simples, não é? Frases fáceis de serem ditas. O difícil é passar arte (e bela arte) através de uma telinha; transmitir vida através de vidas não vividas ou pressentidas; abordar com verdade um tema tão importante, que agora mesmo pode estar acontecendo em algumas casas antenadas na Globo.

Já é bonito ver um casal na maturidade se amar ou viver uma paixão. Mais bonito ainda é perceber que estes sentimentos acontecem igualzinho em qualquer idade.

Aliás, igualzinho não! Amar na velhice é amar mais profundo e urgente, pois a morte está mais presente, mais perto. Ela é mais palpável e faz parte dos "planos do futuro".

Quando jovem, a gente vê o fim da vida como possibilidade, mas não como uma probabilidade. Isso faz a diferença. Amar ao entardecer de nossos destinos é amar melhor, amar o quanto antes, amar o que resta, o que sobra e o que fica, amar pra não morrer em vão.
 
Ou eu estou cada vez mais emotiva, ou Niccette e Ary fizeram hoje um show à parte em Sete Pecados.

Leila Marinho Lage
Rio,12 de Janeiro de 2008