Clube da Dona Menô
Dona Menô

Simpatias de Ano-Novo

Se você quiser um amor de paixão, daqueles que arrebentam o coração, coloque uma calcinha ou cueca vermelha no Ano-Novo. Se está à procura de paz use branco – sempre roupas novas. Se o problema é grana, melhor vestir algo dourado...
 
Nunca coma carne de ave – elas ciscam pra trás. É melhor comer lentilha ou romã. Melhor ainda: não coma - só beba...
 
Acenda um incenso de canela, se quiser sensualidade. Eu, particularmente, odeio canela. Odeio de coração. No meu cérebro o cheiro de canela tem o efeito contrário. Para mim canela é uma mistura de extrato de própolis com coisas das regiões pudendas. Por isso eu prefiro o cheiro de lavanda, hortelã ou sabonete antisséptico...
 
Dê sete pulinhos na virada e cumprimente em primeiro lugar alguém do sexo oposto.
 
Eu fiz todas as simpatias neste ano que passou. Até coloquei três calcinhas, uma de cada cor, todas de uma vez só. Mas me avisaram que não poderia ficar nada apertado... Não ouvi o conselho e passei o Reveillon com as calcinhas todas entrando na... Vai ver, por isso nada deu certo.
 
Coloquei alecrim com rosas brancas num vaso e limpei o chão com anil. À noite fui pra praia e rezei pra Yemanjá. Aproveitei e rezei para Santo Antônio, São Cosme e Damião, Nossa Senhora do Parto, Fátima, Aparecida...
 
Claro que foi numa sexta-feira, em Copacabana, e fui assaltada... Mas, tudo bem. Ainda bem que não me agrediram e só levaram as minhas calcinhas novas.
 
No próximo fim-de-ano eu vou fazer diferente:
 
Não vou usar nada! Vou passar a meia-noite pelada!!! Vou me despir de todas as minhas frustrações e amarguras; lavar a alma, com minha cabeça vazia de aborrecimentos e sem obrigação de fazer algo para melhorar minha vida ano que vem. Apenas vou arrancar todos os meus ódios e meus problemas pendentes, tomar água pura, filtrada de meus preconceitos, e sentirei o aroma fresco de minhas esperanças ainda existentes.
 
Não quero o amargor das línguas ferinas; não quero o ranço de pessoas superficiais, nem o menosprezo de quem não me sente como gente.
 
Vou dar um tempo nos “meus devaneios” e me deixar apenas existir. Lembrarei de que enquanto eu bebo e como, muitos imploram para estar no meu lugar. Vou pensar que enquanto eu respiro e não sinto dor, outras choram em algum canto do mundo.
 
Vou refletir sobre quanto sofrimento está acontecendo à minha volta, nesse mundão de Deus, e me sentir parte do Universo e dos dramas e alegrias dos quais são feitos os nossos dias.
 
Vou pedir para que sejam todos mais felizes, mesmo que com pouquinho para isso. Assim, quem sabe, eu me sinta contribuindo para a paz mundial...
 
Farei de meu Ano-Novo uma reflexão para o ano novo e nem vou me preocupar se ficarei “bem na foto” ou se gostaram de minha performance como a idolatrada, perfeita e onipotente.
 
Vou sentar no chão ou num cantinho e pensar nos meus 365 dias. A minha vida passa e eu posso morrer até dormindo... Meu chão vai ser à base daquilo que trago dentro de mim e é nele que vou sedimentar minhas expectativas.
 
Não perdoarei ninguém, nem farei coisas que não poderei cumprir no dia 1 do ano que chega. Só vou tentar lavar a minha alma; pensar no que fiz, no que deixei de fazer e no que preciso, em muito, para melhorar.
 
Não pensarei em amores. Vou pensar em mim e naquilo que ignorei por puro egoísmo, vaidade ou incompetência. Vou me valorizar, dar um nome ao que sou e que ainda não consegui descobrir. Vou desconsiderar os adjetivos que me deram, tanto os bons quanto os maus, e me desnudar.
 
Simpatias são bem-vindas, desde que acompanhadas de bons sentimentos. Não estaremos bem se não estivermos bem conosco. Por isto, seja lá qual for a simpatia, a melhor certamente será a que não causa mal algum, aquela que traz fluidos positivos ou aquela que acreditamos como símbolo do bem.
 
Que os “Deuses menopáusicos” lhes protejam, meus amigos.
 
Feliz Ano Novo.
 
Leila Marinho Lage
Rio, 28 de Dezembro de 2006
http://www.clubedadonameno.com