Clube da Dona Menô
Dona Menô

 

PPS, a redação ilustrada

Tenho recebido pelo e-mail uma crítica recente feita em jornal pela escritora Martha Medeiros quanto à deturpação de seus textos nas apresentações em Power Point divulgadas pela Internet, onde ela se manifesta contra este tipo de trabalho, dizendo odiá-lo.

Concordo em parte - na parte que diz respeito à violação de autorias, modificação dos textos originais e à má qualidade destas apresentações. Isso só faz o autor se sentir desprezado, ridicularizado, ferindo a mais saudável vaidade, que todos possuem e devem ter.

Vejo, porém, como já escrevi no texto Internet Revolução pós-moderna, que este veículo de divulgação veio pra ficar e se expandir, mais do que qualquer livro, por mais famoso que seja. É através da Internet que os estudantes pesquisam. E não adianta dizer que muita coisa está errada – eles vão primeiro ao computador, pela leitura fácil, pela disponibilidade dos mais variados assuntos, em tempo muito curto.

O problema é que as pessoas estão cada vez mais imediatistas e, como sempre foi, não gostam de ler textos grandes ou, à primeira vista, complicados. Foi sempre assim, só que em escala menor e não percebíamos.

O mundo está rápido, as pessoas não possuem educação literária e, muito menos, têm paciência para estudos demorados ou elaborados. A facilidade da Internet tira o hábito da leitura de livros, substituindo a prática pela comodidade. Está aí a responsabilidade de quem escreve e dos educadores – e nós, escritores, mesmo sem querer, o somos.

Vejo muita coisa ruim em relação a Power point, muita mesmo. Vejo absurdos cometidos à nossa língua - como conjugação, pontuação e vai por aí afora; além de textos muito fracos e formatações mais ainda. Ao ler plágios, quase tenho uma coisa e, quando o autor já é falecido, imagino o quanto estaria se debatendo na tumba. Isso é uma constante e não podemos fugir desta realidade – vai ser sempre assim, mais e mais.

Hoje temos até páginas que debatem sobre autores desconhecidos ou sobre clonagem de textos. Páginas, estas, que deveriam ser mais lidas. Temos que ensinar a população (não só as crianças) que tudo deve ser verificado quanto à sua autenticidade, incentivando a pesquisa. Só não podemos ignorar ou desprezar a importância do pps para o leitor, e até mesmo pra o escritor!
 
Eu lembro que, quando eu era criança, existia a “redação ilustrada”. A professora dava o tema e lá íamos para casa para fazer a redação, além de termos que desenhar algo baseado no que escrevíamos. Tenho até hoje estes trabalhos escolares, com desenhos de minha mãe (que me ajudava escondida). A redação ficava mais bonita e inesquecível. Agora avancem uns 40 anos e veremos que isto não existe mais. As crianças vão ao pc, recolhem o que querem, teclam um texto qualquer em cima, imprimem, colocam numa capa bem bonita e tudo está pronto.
 
Para qualquer idade observamos o quanto um pps embeleza o momento da pessoa, pois esta arte engloba a visão e a audição, sentidos nobres. Nós nos envolvemos muito mais quando lemos algo ilustrado por uma boa música e bonitas imagens e, portanto, é de importância absoluta que os criadores sejam também estudiosos e divulgadores de obras autênticas.

Eu mesma, que ainda me acho uma iniciante, procuro ler sobre o que eu quero publicar, tento conversar com os autores dos textos e obter autorização para o pps em questão, mesmo que seja meu direito a interpretação áudio visual da arte final. Quando não, procuro ser totalmente fiel aos livros ou jornais que publicaram o assunto. Faço isso não somente para os leitores, mas por mim mesma, pois primo pelo bom gosto e pelo respeito à obra alheia.

Quem divulga um pps errado, feio ou falso é tão responsável quanto aquele que o fez. Não adianta odiar pps. Em qualquer forma de arte (e pps o é) vamos ver lixo e luxo. O que realmente tem importância é a velocidade com que eles são publicados e repassados. Isso é impossível de ser controlado.
 
Esperamos que a sociedade se “eduque” e utilize este imenso poder que a Internet oferece para troca de conhecimento, cultura e bom senso.

Leila Marinho Lage
Rio, outubro de 2007