Clube da Dona Menô
Dona Menô

Em nome do amor

Depois de uma separação conturbada, de um casamento de dezoito anos, recebi uma ligação de uma amiga: "Gisa, fiquei sabendo que você comprou uma casa. Você é peituda!".
Sim, eu sou peituda. Como poderia deixar a peteca cair? Quem perdeu foi ele e não eu.
Tracei uma vida por uns anos sozinha, porque eu queria curtir a minha casa e ainda não tinha idealizado um novo grande amor, embora não estivesse descartado dos meus planos.
Sempre gostei de escrever e nos intervalos das minhas escritas entrava na Net para falar com amigos.
Janeiro de 2006. Cheia de projetos para o ano, reforma de minha casa, outra faculdade... Olhando umas mensagens no Gazzag, entra o amor da minha vida e me diz: "Oi".
Tão tímido, tão desprotegido, querendo colo e a mãezona aqui de plantão.
Conversamos cinco horas seguidas. Daí ele me disse: "Eu tenho que ir trabalhar". Trabalhar àquela hora? Eu ainda ia dormir e ele nem dormiu, saiu direto da Net para o trabalho. Nem tive tempo para pensar em fuso horário.
Não combinamos nada e nem imaginei falar tão cedo com ele novamente. No dia seguinte liguei a Net e olha o meu "bichinho" me esperando. Isso nunca mais acabou. Foi um ano e dois meses. Ele mandou o dinheiro e a peituda novamente entra em ação. Tracei a meta de vir viver com ele aqui na Suécia.
Falei somente para minha mãe, meus filhos, minhas irmãs e três amigas sobre a minha vinda para a Suécia.
Outras pessoas ficaram sabendo e tive só quatro festas de despedida: minha família (mãe, irmãos, cunhados e a sobrinhada), a avó de meus filhos, a ex sogra de meu filho e, é claro, as amigas que ficaram sabendo.
Meus filhos me levaram em Cumbicas. Entre choros e despedidas cortei pela segunda vez o meu cordão umbilical com meus filhos.

Cruzei o Atlântico em busca do meu "Rei". Aqui estou.
Confesso que, tanto para mim quanto para ele, foi um choque. Passamos anos sozinhos e enfrentamos uma coisa que não é comum para o nosso signo: Dividir.
Dividir primeiro uma cama, pois anos dormindo sozinhos numa cama de casal, aiaiai... Não foi fácil. Ainda estamos na aprendizagem.
Tivemos que dividir sonhos, dividir espaços, dividir amor. Para um ariano dar é fácil,  adicionar conhecimento é muito bom, melhor ainda é multiplicar amizades...Eita, coisa boa, mas dividir... Mas, "já que estamos no inferno, então, abracemos o capeta..." Jesus toma conta...



Banco em Flen

Nem tudo que reluz é ouro, mas, também, nem tudo que balança cai... Já vivemos grandes passeios. Meu marido é uma pessoa séria e eu sou: "paiaça" - minha amiga é que me chama assim. Entre minhas brincadeiras, palhaçadas, meu canto com voz de taquara rachada e dança, damos muitas risadas. Nós sabemos o que queremos: envelhecer juntos.
Estou escrevendo tudo isso antes, para se entender o porque de estar aqui na Suécia.
Cheguei num sábado e o meu marido, que é chef de cozinha, estava de folga. Mas, segunda-feira fora trabalhar. Fiquei sozinha em casa, porém o apartamento estava em reforma – isto, pelo sistema imobiliário daqui que se chama "Svenska ...". Preferi ficar no quarto para não ter contato com os pedreiros, porque eu não falo o idioma. Assim, evitaria constrangimentos. Ficar sozinha em casa por uma semana, num país frio, para quem tinha uma vida altamente ativa, era pedir demais.


Conjunto de lojas

No sétimo dia resolvi enfrentar os meus medos (não sei do quê) e fui caminhar. Como aqui tudo parece ser igual, resolvi marcar o caminho. É claro que a Mariazinha aqui estava sem o Joãozinho e teria que colocar o "tico e teco" para funcionar. Não tive a idéia de coletar pedrinhas e ainda bem que não levei pão, porque há muitos pássaros por aqui e comeria minhas migalhas...
Vi um carro no estacionamento, que era vermelho e indicava o fim do bairro onde vivo. Logo pensei que poderia sair e, quando voltasse, o carro poderia ter saído e eu não encontraria as ruas por onde andei. Marquei por um "conteiner", ou seja, uma caçamba. Quando voltei, a caçamba não estava mais no lugar. Ainda bem que o carro vermelho estava...
Querem saber mais das minhas "palhaçadas, gafes e aprendizagem?
Vão ter que ler o próximo capítulo....

Com carinho...
Gislânia Dornelas
Suécia, 21 de outubro de 2007