Clube da Dona Menô
Dona Menô
BERNARDO, LILIAN E NICOLE SHOW



Nicole está aqui pra registrar uma vida, mas, antes disso, deixem que eu fale sobre ela e sua família, numa vida passada.

Ela nasceu por minhas mãos. Quando ela foi fecundada arrumaram uma médica pra ela, mas acabou este “fetinho” sendo recebido por mim com a maior emoção lá no Méier Todos os meses eu acompanhei seu crescimento, vendo tecnicamente tudo que podia acontecer com um bebê e a gestante, mas, ao mesmo tempo, eu me tocava muito por estar cuidando da filha de um menino que também coloquei no mundo umas duas décadas atrás.

Era interessante receber o pai e a mãe no consultório me chamando de tia": "Oi, tia Leila! Voltamos pra fazer Pré-Natal!". A criança que estava sendo lapidada pela natureza fazia me sentir parte daquela evolução. Eu olhava admirada para o pai de Nicole, o papai Bernardo, que é um rapaz muito carinhoso, muito lindo.

Nicole tem cílios que qualquer salão de beleza gostaria de esculpir. A avó de Nicole é uma mulherona muito bela. Ela adora cílios longos. Na gestação de Nicole, toda vez, aparecia a "avozinha" com cílios postiços. Talvez por influência esotérica, nasceu Nicole com enormes pelinhos palpebrais e com olhos azuis que nem os céus do Rio de Janeiro. Mais charme que isso é impossível!

Eu perguntei de onde vinha a cor azul-grafite e não souberam responder de imediato. Ora! São genes recessivos! Todos os dois, pai e mãe, têm sangue europeu nas veias. Um dia, misturado com a ginga brasileira, havia de dar nisso aí que eu vi...



Eu já tinha tirado fotos da mamãe Lilian grávida, junto a Bernardo, mais a avó, minha paciente também. Eu estava na foto e me achei feia. Daí não publiquei! Poxa... Como é que eu podia deixar de divulgar a filha de Bernardo?! Hoje aconteceu e foi muito espiritual a coisa:

De tarde eu pensei em pizza. Não gosto de pizza, mas ando com vontade de pizzas... Uns dois anos atrás, ou menos, Bernardo não imaginava ser pai de Nicole de olhos azuis e com cílios longos... Estivemos comendo massas que me reviravam o estômago, mas mais reviradas eram minhas lembranças.

O tempo passa tão rápido; a vida da gente é tão louca que eu deixei de aceitar mil convites pra voltar àquele restaurante de rodízio de pizzas, quando Bernardo menino era um atleta, sem mais compromissos. Mesmo assim, no futuro estive diretamente vinculada à vida de meu bebê-pai Bernardo.
 
Nossa! Quanto tempo faz aquilo... Coisa boa saber que a gente participa aleatoriamente e insidiosamente da vida de tantas pessoas e de tantas famílias! Bernardo e seus parentes fazem parte de minha vida como eu faço parte da vida deles.

Lembro de um dia, quando Bernardo-Hoje-Pai tinha poucos anos de idade. Eu doei pra mãe dele uma gatinha, filhote da minha gata. Esta gata fez parte da infância dele. Eu acho que o amor que eu mandei para aquela turma não podia ter sido mais real. Bernardo brincou muito com um bichinho que eu escolhi pra ele.

O tempo passou e eu só tinha contato com a mãe de Bernardo, lá no consultório, como também com a avó dele. Deste menino eu só soube mesmo quando se tornou pai, pois para mim ele começou a se mostrar um homem durante as consultas de Pré-Natal.



Bernardo é jogador de futebol, e dos melhores, mas, antes de tudo, é o meu guri que foi criado com uma gatinha que vinha de minha casa diretamente pra ele. A mãe de Bernardo é uma grande amiga, que tem uma vida inteira comigo antes de ele existir. Depois ele veio. Ele comeu pizza comigo e depois se tornou pai... De seu nascimento até Nicole, passando pela gastronomia de rodízio, passaram muitos acontecimentos, tanta vivência...

Eu não publiquei as fotos durante a gestação de Nicole porque eu me achei gorda. Achei que as fotos ficaram horríveis. Aconteceu que hoje eu lembrei de tarde disso! Eu lembrei exatamente de Nicole e seus pais. Lamentei não ter até agora publicado nada sobre eles. Daí, depois do expediente, andando na rua, sem mais nem menos, aconteceu uma coisa muito improvável: encontrei Bernardo, a esposa e a filhota Nicole bem de frente a uma lojinha do subúrbio.

Como ela está grandinha! Graças a Deus eu tinha uma compacta na bolsa. No fim do ano a gente não pode se arriscar com “Canons” na bolsa, quando nas ruas, devido aos assaltos, mas posso me dar a luxo de ser abordada por um assaltante e dizer: “Leva esta merda aí”. Assim, foi fácil registrar a melhor foto que poderia documentar minha íntima relação com esta família.

Minha Sony seguramente registrou uma imagem melhor que a tal Canon, pela qual eu pago até hoje, mas me decepciona todos os dias. Pelo menos, com a máquina de bolso, eu sei muito bem até onde ela pode, e foi: “Quem irá dizer que não existe razão nas coisas do coração?...

Leila Marinho Lage
Rio, 09 de dezembro de 2010
Clube da Dona Menô

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