Clube da Dona Menô
Dona Menô

Rio Antigo
Texto de Elaina Rocha

Eu e minha amiga Leila resolvemos fazer turismo no Centro do Rio de Janeiro - mais especificamente na Rua Lavradio, onde funciona nos fins-de-semana a feira do Rio Antigo.

Como não gosto de acordar cedo,  marquei meio dia. Devemos convir o horário não condiz com o tipo de passeio, principalmente fotografar.

Mas, lá fui e. Saí de Guaratiba às onze horas e cheguei à casa da Leila meio dia. Ela já estava pronta. Pontual a minha amiga, uma qualidade que admiro.

Saímos para o nosso passeio. O trânsito estava maravilhoso e o dia radiante. Passamos por algumas “faixas de Gaza” e saímos intactas, felizmente. O que há de balas perdidas nesse nosso Rio de Janeiro é uma grandeza. Bala perdida... Que termo! De perdida ela não tem nada - ela sempre acha.

Chegamos ao centro e estacionei. Como sou conservadora, no estacionamento de sempre. Que fazer? Adoro o novo, mas, em alguns casos, não. Com estacionamento, shopping e bar, eu sou conservadora. Gosto de conhecer o garçom, o mestre e os freqüentadores.

Andamos até a Rua do Lavradio e chegamos à bendita feira.

Em consenso, resolvemos almoçar primeiro. Optei pelo meu restaurante preferido, o “Salsa e Cebolinha”, que é de uma grande amiga, a Conceição. Um restaurante que tem a cara do Rio: boemia, chorinho. Claro, isso tudo à noite. Mas, tem um almoço muito bom. Qual não foi a surpresa, estava fechado e a Conceição na porta, toda arrumada, conversando com um amigo. Os dois juntos eram um contraste só: ela é baixinha e ele muito alto. Pena que não fotografei. Pior que a Leila nem prestou atenção a essa disparidade.

Apresentamo-nos e ficamos de conversa fiada. O amigo da Conceição é o Aires, que tem um restaurante na Mem de Sá,  chamado “Nova Capela”. Acabamos indo almoçar no restaurante dele. Ele, muito simpático, nos acompanhou no almoço e falamos de um tudo.

Terminado o almoço (muito bom, por sinal), com barriga cheia, fomos às fotos e às coisas exóticas que existem no Rio.

 Na feira encontra-se coisas interessantes. Muito antiquário expõe lá. Artesanato, coisas antigas, coisas exóticas, mas o preço era sempre um absurdo. Não sei se é porque me acham com cara de turista, mas sempre que pergunto o preço de algo, me assusto com a resposta e desisto. Acho que não vale.

Bom, venci a minha compulsão de compra e não comprei absolutamente nada. Incrível.

Leila queria fotografar. Vocês não imaginam o que é a Leila fotografando. Haja paciência. Coisa um tanto difícil de eu ter, mas procuro achar lá no fundo um resquício e, às vezes, encontro e fico ali esperando calmamente.

Sou mais objetiva: olho, gosto, fotografo umas duas vezes ou varias vezes, de vários ângulos - uma deve ficar boa. De um modo geral, minhas fotos ficam boas. As da Leila também são ótimas, mas que trabalho que dão.

Íamos passeando, olhando, fotografando e comentando, quando ouvi tango e vi um casal dançando. Uma mesa de bar e lá mesmo eu fiquei. Adoro tango. Ainda vou dançar tango em Buenos Aires. Um pouco contra a vontade, Leila sentou. Pedi um chope ao garçom e este me respondeu com um “portunhol” louco. Olhei bem séria e perguntei: “Você não é daqui?”.

Ele respondeu: - “Sou. Pensei que a senhora é que não fosse...”.

Viram? Todos acham que sou “gringa”. É uma chatice. De espanhol só sei falar isso: “pero si, pero no. Hasta La vista baby”.

Mandei o garçom falar direito e rimos muito.

Tomamos nossa cerveja, que, aliás, detesto. Gosto de chope, mas não tinham. Percebi que minha parceira queria seguir; paguei e seguimos com o passeio.

Haja foto! Também, o Rio é lindo e as pessoas são excêntricas.

À nossa frente havia uma apresentação de um grupo que dançava ao som de “Santana”. Não resisto e lá fui eu, quase entrando na dança. Lutei bravamente e só fiquei fotografando. Muito bonito o trabalho.

Terminada a apresentação, seguimos. Eis que um casal aborda a Leila; se falam como se fossem velhos conhecidos. Eu me aproximei e entrei na conversa animada. Nunca nos vimos - nem mais magros, nem mais gordos- e parecíamos amigos de velhos carnavais. Uma peculiaridade do povo carioca: se falam, se abraçam, mas ninguém dá o endereço, e ainda tem a pachorra de mandar passar lá em casa. É hilário.

Tirei foto da Leila com o casal e do casal de vários ângulos.

Seguimos e, do nada, lá estava o nosso amigo Aires, que nos acompanhou ao final da feira.

Dali, peguei o carro, sim, pois detesto andar. E fomos para a Cinelândia. Adoro a Cinelândia, mas à noite. Durante o dia é estranho: meus garçons não estão, o público é outro, mas que fazer?...

Sentamos e pedimos uma coca-cola. Tirei algumas fotos e a Leiloca saiu para fotografar as estátuas, a Câmara, o Teatro Municipal, o Amarelinho e a Biblioteca Nacional. No início, ela estava meio assustada, mas falei: “É seguro tem muito segurança!”.

Lá foi ela à caça de belas fotos.  Eu fotografei sentada. É menos cansativo.

Com isso, a tarde já caía e não havia mais luz suficiente para fotografar. Então, resolvemos voltar.

Deixei a Leila em casa e parti para a minha incrível viagem. Afinal, são quase 70 quilômetros até a minha casa. Vai morar longe... Quem manda?

Fui pela Barra e consegui tirar uma foto maravilhosa do por do sol na Rua Aberlado Bueno.

Chegou o meu paraíso.

Mal chego, Leila liga e me chama para assistir a apresentação de um cantor - acho que era isso. Quase cai dura. Tinha acabado de chegar, um sono só. É um porre chegar e, quando chego, ninguém me tira de casa de novo.

Nessa, minha amiga ficou sem a parceira, já que não fui. Permaneci é na minha casinha.

Assim foi o turismo no Rio.

Voltaremos a fazer outros. Afinal, o Rio é imenso.

Eliana Rocha
Outubro de 2007