Clube da Dona Menô
Dona Menô

 

O Peixinho Peixoto



Conheci Peixoto uns meses atrás na casa de uma amiga, sua dona. Ele morava numa puta cobertura no Recreio dos Bandeirantes. Eu o fotografei e conversei com ele bastante, em silêncio. Ele posou para mim, muito altivo e eu guardei suas imagens, pois não havia espaço em minha vida e em meus trabalhos para publicar seus retratinhos.

Hoje, sem mais nem menos, duas vontades eu tive: escrever uma carta para Márcia Garcês e usar a foto de Peixoto.

Liguei para a amiga que cuidava do peixinho beta com tanto carinho e soube que ele morreu ontem. Ele completou seu ciclo de vida. Agora tenho dois motivos para escrever a carta, aliás, três, pois o maior motivo para o texto é a ligação espiritual que existe entre pessoas que se amam:

1 - Ontem a babá do peixinho chorou muito por causa dele, e certamente por muitas outras coisas.

2 - Márcia Garcês fez um livro para ser publicado por uma editora, mas precisa de patrocínio para sua impressão e divulgação.

3 - Eu preciso de paz, pois muita coisa me atormenta, que nada tem a ver com minha cabeça, mas com fatores externos.

Lembrei daquele peixe rodando e rodando dentro do aquário pequeno. Não entendo a razão de colocarem BETAS em espaços mínimos e circulares. Deve ser alguma técnica, mas sempre achei que isso deixaria louco qualquer ser aquático. É como nós, seres humanos, que vivemos em redomas, circundados das mesmices, sempre batendo ponto numa rotina entediante.

Betas são raivosos; brigam entre si; são egoístas; não aceitam parcerias. São lindos e carinhosos, desde que não invadam sua tranquilidade e habitat ou se apoderem de seu par. O BETA é bastante parecido comigo...

O mundo de Màrcia Garcês também é restrito, pois depende de outras pessoas para locomoção, mas não pensem que eu, tal qual o mundo, sou livre. Todos nós temos limitações...

Eu gostaria muito de poder fazer com que o livro de Márcia Garcês bombasse por aí, mas infelizmente tudo são grana, interesse e contatos estratégicos... Eu não conheço quem possa saldar minhas dívidas, muito menos quem possa promover financeiramente um livro de uma pessoa iluminada.

A gente faz trabalhos maravilhosos; faz coisas que ninguém faz por aí, com qualidade, com estilo, com cultura e com muita emoção, mas acabamos nos deparando com coisas materiais e práticas. É o mesmo que bater cabeça em paredes de vidro redondas... Giramos a 360 graus ininterruptamente...

Peixoto cumpriu sua existência ao lado de uma pessoinha muito linda que deu de si para que ele vivesse da melhor forma. Eu gostaria muito de fazer o mesmo por Márcia, minha amiga querida e cheia de valores espirituais.

O que Deus pode fazer por mim?... Apenas me dar paciência para aguentar os trancos da vida e continuar rodopiando por aí. Para Márcia eu espero que alguém adote a meta de seu livro - da mesma forma que a dona de Peixoto fez com que seu queridinho se destacasse no mundo.

Leila Marinho Lage
Rio, 20 de agosto de 2010
Foto da autora
http://www.clubedadonameno.com

LEIAM TAMBÉM:

PROJETO NOVO SER