Clube da Dona Menô
Dona Menô

NÍVEL 5 DE EREÇÃO

Josualdo, o namorado eterno de Dona Menô, andava deprimido... Depois de anos e anos de satisfatória vida sexual entre o casal, começaram a acontecer coisas inusitadas, a princípio irrelevantes, até que a coisa ficou estranha, uma vez que eles se entendiam até pelo olhar – o olhar de Dona Menô:
 
1 – Josualdo dormia cedo demais ou tarde demais, mas nunca junto com ela, como sempre fizeram.
 
2 – Josualdo não discutia mais a relação, apesar de nunca terem precisado disso antes.
 
3 – Ele passou a entrar em sites de relacionamento da Internet. Não que isso fosse novidade, mas ela percebeu que ele fez um perfil incompatível com a sua realidade: ele jamais aparecia em fotos, mas dava a entender ser um cara elegante, charmoso, sensual e... disponível... Piorou quando ela começou a perceber que homens e mulheres estavam na dele...
 
4 – Ele tomava remédios sem bula, aliás, sem identificação nenhuma, e após tomá-los, demorava bastante no banheiro, saindo de lá muito sério.
 
5 – Ausentava-se de casa com bastante frequência e o seu destino sempre era muito misterioso. Uma vez ela até o seguiu, mas o encontrou exatamente onde ele disse que ia: jogar buraco com os amigos na praça... Mas nos outros dias?
 
Dona Menô não estava gostando nadinha daquilo. Não era depois de coroa que ia se aborrecer por causa de homem. Ela podia ser coroa, mas não estava morta. As dúvidas pairavam em sua cabeça, se bem que, pelo que ela conhecia do companheiro de tantos anos, e sabendo de sua personalidade, não devia ser traição, mas ao contrário, como estava percebendo nos últimos meses - ele estava deprimido e fugindo da realidade: por causa da impotência sexual.
 
Ela só tinha duas opções: ignorava e aceitava ou batia de frente com ele. Ele já havia procurado vários médicos e sempre vinha com explicações esfarrapadas sobre seu problema, que no começo era apenas falta de ereção, que, por sua vez, resultou em falta de interesse... ou coragem de encarar os fatos.
 
Menô, então, o metralhou num inquérito íntimo:
 
“Vamos lavar a roupa suja aqui e agora! Você ta comendo outra mulher?!”.
 
“Como, se eu não consigo nem te comer?...”.
 
“Ué! A gente faz outras coisas. É ou não é?”.
 
“Ah, ta... É verdade... Bem pensado...”.
 
Menô viu que não era este o caminho. Josualdo era muito retardado para conseguir alguém, além de ser velho, feio, doente, além de pão-duro. Ele não gastaria nem com a Playboy, muito menos com quenga. Qual seria a dele?
 
“Teu lance é gostar de boiola, é?...”.
 
“Que isso, mulher?! Eu nem Cuba uso por causa do formato!”.
 
Isto era verdade... Uma mulher pode se enganar com um homem por alguns anos, até por muitos, mas certamente em alguma hora ele vai escorregar na casca da banana. Uma mulher observadora jamais deixa passar. Ela até pode fingir e jurar que seu parceiro é machão, mas a pulga fica atrás da orelha...
 
“E aqueles caras falando coisas muito sutis pra você e mandando recadinhos bem sugestivos? Você agora faz parte de um grande rol de poetas e jamais foi poeta na vida. O que anda fazendo com eles pelas minhas costas?”.
 
“Pô, Menô... Nem da tua frente, nem nas minhas costas, maluca! Você já me viu falando que nem eles? Acha que depois de velho vou dar uma de viado virtual? O lance é que a gente tem que aceitar todos como são, não é? Eu quero ser um escritor e preciso de admiradores!”.
 
“Que vão admirar o cacete!”.
 
“Não dá, Menô. Olha só pra ele...”.
 
“Não precisa de cacete...”.
 
“Mas precisa de viado. Viado nasce viado ou se descobre viado. Impotente não vira viado por conta disso! O meu problema é outro. Minhas cabeças não se entendem. A de cima pergunta e a de baixo não responde...”.
 
Ela acreditava naquele homem. Apenas colocou suas questões para que ele abrisse a boca e dissesse a verdadeira mudança naquela relação até então perfeita, mesmo que o sexo já não fosse o mesmo.
 
“O jeito é eu te levar a um especialista.Vamos marcar a consulta. Já vi que isso te incomoda mais que a mim...”, disse ela, já pegando o catálogo e procurando o telefone do doutor Tênisson, famoso urologista, especializado em disfunção sexual.
 
“Que?! Você vai entrar na consulta?!”.
 
“Claro! Até agora você foi aos médicos e voltou com remedinhos que eu não sei pra que servem. Você os toma, se tranca num quartinho e sai de lá meio cabisbaixo. Depois entra no Google e procura um monte de sites médicos sobre próteses e injeções penianas. Você não acha que chegou a hora de eu participar de uma coisa que está me afetando tanto no quarto quanto na casa inteira?”.
 
“Só quero que saiba de uma coisa, Menô. Não é psicológico e eu não deixei de ter tesão por você, ta?”.
 
“To sacando. Sei que é físico, mas pra tudo tem um jeito, certo?”.
 
Dr Tênisson teve que atendê-los por três vezes até começar a discutir sobre o caso. Foram exames atrás de exames até o médico dar o ar da graça: “Irreversível... O jeito é cirurgia. Talvez uma prótese...”.
 
“Não!”- gritou Josualdo - “Nada de agulha, anestesia e muito menos um treco duro que vai me envergonhar depois de morto!”.
 
Menô ficou intrigada com a preocupação dele, não com o medo de cirurgia, mas com aquela coisa sobre morto: “Do que você ta falando? Que é que vai te envergonhar logo depois da morte?”.
 
“Imagina, Menô, se eu morro, fico todo mole e o médico começa a rir do meu pinto...”.
 
“E daí?! Minutos depois de morto começa a rigidez cadavérica e ninguém percebe, ora. Até porque, se eu estiver viva até lá, eu mesma martelo a coisa...”.
 
“É, mas se você morrer antes de mim, to frito...”.
 
“Jô, eu nunca pensei que você diria isso (que a princípio parece tão romântico) justamente por causa de uma prótese - e não por mim...”.
 
O médico, vendo que ali se instalava uma situação incontrolável, intercedeu: “Vou tentar medicação oral para ver como você se comporta, mas vai ter que treinar com sua mulher...”.
 
Josualdo logo reclamou do preço, e o médico, levantando da cadeira e apontando com o dedo para o teto, disse: “Mas pode levar até ao nível 5 de ereção!”.
 
Menô olhou assustada para aquele médico. Ele parecia Pôncio - o Pilatos... Ela começou a simular com a mão os níveis de ereção; mão caída, depois o punho mole ia subindo ao nível 1, 2, 3: “Doctor, pra mim basta até nível dois, cara... Se, com a idade que ele tem, a coisa chegar ao nível 5, vai me abandonar. Não aguento nível 5, não...”.


 
Josualdo gostou da ideia e até sugeriu, por economia, ingerir meio comprimido (nível dois e meio), aliás, se lambesse o remédio, poderia economizar para o mês todo!
 
“Isso é que é pão-durisse, Josualdo!”, disse ela.
 
“Sou duro em alguma coisa, certo?...”.
 
O médico novamente tentou remediar a discussão: “Pela minha experiência, acaba-se tapando o sol com a peneira...”.
 
Menô perguntou a ele: “Quer dizer que seus pacientes desistem de tratamentos?”.
 
O médico respondeu: “Paciente que desiste não é meu paciente, senhora. É por experiência própria mesmo...”.
 
Menô viu que o médico podia até ser excelente profissional, sacar muito do que fazia, mas de abordagem, era nível menos um. Ela não aturou a pressão e também se levantou da cadeira, colocando o dedo pra cima: “Josualdo está preocupado demais com isso! Não to reclamando de nada! Ta muito bom como está”.

Ela se vira para seu amado e diz: “Amoreco, vamos conversar mais? A gente só observa os acontecimentos, mas não conversamos sobre eles; não tentamos ver até onde a gente pode ir. Ta pensando que eu to com essa bola toda, é? To ficando broxa também...”.
 
Josualdo gostou do que ela falou. Sua mulher parecia Dom Quixote e o defendia com galhardia. Saíram do consultório aliviados: ele tentando lembrar de todas as opções sugeridas e como poderia se cuidar, enquanto ela tentava imaginar o que lhe esperava...
 
Leila Marinho Lage
Melodrama baseado em fatos reais
Fotos da autora - o melodrama também... 
Rio, 18 de julho de 2010
http://www.clubedadonameno.com