Clube da Dona Menô
Dona Menô
Chá de Sucupira

Saga culinário-fotográfica percorrida por Leila Marinho Lage e Luiz Gonçalves Martins
 
Uma amiga natureba chegou toda faceira, achando que tava abafando, com um saquinho de sementes de sucupira para eu fazer o chá em casa. Ela disse que eu ia ficar boa de todas as minhas oses (artroses, cifoses), ites (artrites, neurites), omas e todos os sufixos possíveis e imagináveis em medicina...
 
Como é que eu quebro esta m...?



Quero saber como vou resolver o entorse causado na minha mão depois que eu tentei quebrar a semente com alicate.
 
Dão-nos o remédio para todos os nossos males e nos enrolam com a fórmula... Como é que eu vou fazer chá das sementinhas que existem dentro desta noz se eu não consigo quebrar este troço?!



Quase desistindo... Como posso falar das propriedades terapêuticas da Sucupira e também ensinar a fazer o chá desta semente se eu ainda não consegui tirar o que tem dentro da casca!
 
Presente de grego este...



É fácil fazer o chá. O difícil é conseguir retirar o conteúdo disto aí. Acho que a NASA tá perdendo uma grande oportunidade de plantar Sucupira, que é uma árvore que existe aqui no Brasil, e incrementar a resistência dos seus foguetes.
 
Os botânicos e fitoterapeutas já estudam a semente, aliás, a árvore toda, há muitos anos, mas depois que Juca de Oliveira, O ATOR, apareceu no Jô (o escritor, apresentador e comediante) falando maravilhas da sucupira, esta passou de um dia ao outro a ser considerada a planta mágica, que soluciona tudo.
 
Eu não sei se isto vai resolver os defeitos da minha carroceria, que tá com o diferencial corrido, mas estou à procura de instrumentos para ABRIR este novo caminho...

 
Aqui eu pensei em usar a minha Bosh, mas, além do cheiro desagradável de graxa que a máquina solta, eu podia furar a minha mesa da Indonésia (aí prefiro ficar com lordose, escoliose e tudo quanto é ose...).

 
Amigos, sou Luiz Gonçalves Martins. Preocupado com Leila, resolvi selecionar algumas ferramentas que poderão ajudá-la em sua tarefa. São elas:
 
a) VINHO DE JABUTICABA
– Antes de iniciar os trabalhos é necessário tomar uma dose de vinho de jabuticaba, pois, além de ser muito bom, serve como estimulante nas tarefas.
 
b) MARTELO DE GEÓLÓGO E UM PEDAÇO DE TRILHO.
- Procedimento: Coloque a sucupira em cima do trilho e dê uma leve pancada com o martelo citado sobre a mesma, tomando o cuidado para não acertar o dedo, pois este martelo, que em sua ponta tem um diamante, é especial para quebrar as mais duras rochas e seu preço é de aproximadamente R$ 500,00.
 
c) FURADEIRA DE ALTO IMPACTO E UM GRAMPO DE MARCENEIRO.
- Procedimento: Prenda a sucupira no grampo e posicione a broca de cima para baixo, com pouca velocidade para não atravessar a semente.
 
d) ALICATE DE PRESSÃO.
- Procedimento: Ajuste a pressão adequada para esmagar a sucupira até à semente. Caso não conseguir, bata com alicate em cima dela.
 
e) CHÁ INGLÊS (DARJEELING) E UM DORIL.
- Por que o chá e o Doril? É que a essa altura você já estará com uma tremenda dor de cabeça!



Aqui é Leila de novo.
 
Nunca digo última tentativa em nada. Esta foi a penúltima... Ainda posso comprar as sementes da sucupira já retiradas das cascas, mas acho que não teria aquele misancene legal de fazermos nós mesmos o nosso remédio, né? É como algo semelhante a uma pajelância, um cerimonial de cura...
 
Consegui um progresso: quebrei uma semente com a parte traseira do martelo, aquela parte que retira prego. Umas dez sementes estão perdidas pela sala, pois eu sou ruim de mira pra caramba...
 
Descobri que dentro daquela armadura em miniatura existem sementes verdinhas e sai um líquido molosconhento. Algo parecido com meleca de bebê. Aquela coisa gruda na mão e imagino que na sua fervura, como me alertaram, eu perderei a panela, pois jamais vai sair a resina, ou seja lá o nome que dão.
 
Eu não sei, não... Acho que sou alérgica a sucupira. Quando eu cocei a testa, a mesma empolou. Seria engraçado ficar boa da coluna (do pé, do ombro, do pescoço etc) tendo um choque anafilático...
 
Bem, de qualquer forma, eu não vou ficar aqui me danando em quebrar conchinhas! Vou ver quanto cobram pra fazer isso pra mim...

 
Juro, gente: eu tenho alergia a sucupira... Ontem pensei ser psicológico, mas não. Eu realmente fiz alergia a sucupira...
 
Não sei se foi porque eu fiz concentrada demais, mas eu tentei, afinal tenho que chegar até o final desta série!
 
Amanhã ou depois tentarei quebrar mais sementes e fotografar passo a passo a feitura do chá... Vou logo avisando que a semente, que eu até mastiguei pura, tem gosto de goiaba verde. O chá tem o mesmo gosto, mas vi que errei na concentração - coloquei todas as doze sementes, porque eu queria acabar logo com aquele inferno!
 
Chá de sucupira se faz com 4 sementes para cada litro de água. A gente deixa fervendo mais ou menos por uns cinco minutos. Depois que esfria, a gente bebe nas próximas 24 horas, sem adoçante, que nem bebemos água. Só podemos colocar limão e olhe lá!
 
Eu imaginei que eu se fizesse logo com umas vinte "sucupiras" ficaria logo boa de todos os meus esporões calcâneos.. O máximo que consegui foi ficar toda empolotada... Outro dia recomeço a minha saga...



CHÁ DE SUCUPIRA (O RETORNO DE LUIZ)
 
Sempre resisti acreditar em causas independentes e imprevisíveis, que determinam um acontecimento qualquer. Porém, hoje estou acreditando até em Papai Noel.
 
Estava eu andando pelo centro da cidade do Rio, lá pela ruas dos Andradas com Uruguaiana, procurando por alguma coisa supérflua. Isso mesmo: quando você anda pelo centro da cidade, sempre acaba comprando alguma coisa desnecessária para ocupar um espaço que não existe em casa, pra depois jogá-la fora. Ao olhar para uma loja que vende chá e outras coisas do mato, olha o que estava bem na minha frente exposto na vitrine: “CHÁ DE SUCUPIRA, o verdadeiro Chá de Sucupira. Não resisti e resolvi entrar na loja e logo à porta encontrei uma senhora muito simpática, com sotaque mineiro, que perguntou:
 
- O sinhô deseja alguma coisa?
 
Sim, chá de sucupira!
 
- Uai, o sinhô conhece o chá de sucupira?
 
- Não, eu conheço a sua história que, aliás, é muito triste!
 
- Como assim muito triste?
- Eu conheço uma moça que amassou todos os seus dedos tentando fazer esse chá!
 
- Uai sô, essa moça é..., porque este trem é duro pra daná!
 
- Eu sei, mas a cabeça dela também é dura pra daná.
 
- Mas ela conseguiu fazer o chá?
 
- Olha, ela conseguiu fazer um trem meio estranho que ficou mais parecido com garapa salobra, mas diz ela que ficou bom.
 
- O sinhô nem conhece o chá, por que vai levá-lo?
 
 -Promessa. Fiz uma promessa que se ela parasse de quebrar esse trem, eu procuraria por este chá até encontrá-lo.
 
- O sinhô sabe pra que ele serve?
 
- Não, não sei!
 
- Serve pra dor lombar, enxaqueca, trombose, mau olhado, inveja, solidão e outras coisas.
 
- Bom!!!
 
- É, mas não serve pra cabeça não!
 
- Este é o problema...
 
Vocês podem até não acreditar na história, mas o chá está aí e pronto para ser usado sem a necessidade de usar martelo, marreta etc.
 
Agora, a moça do chá... Ô, que moça teimosa!
 
 
Leila Marinho Lage